A Rússia não é ameaça ao fornecimento de alimentos a nível mundial, a culpa recai nas sanções impostas ao país, declarou na segunda-feira (23) Dmitry Peskov, porta-voz presidencial russo.
A ONU já advertiu que a situação na Ucrânia pode levar ao aumento dos preços dos alimentos e uma fome mundial, explicando que o mar Negro é uma das regiões mais importantes para a produção de grãos e produtos agrícolas, com a Ucrânia e a Rússia sendo responsáveis por 30% das exportações globais de trigo, 20% das exportações globais de milho e 76% das exportações de girassol, pelo que qualquer interrupção na produção ou no fornecimento poderia levar a preços mais altos.
"A Rússia sempre foi uma exportadora bastante confiável de grãos. A Ucrânia tem sido uma exportadora de grãos bastante confiável. A Rússia não impede a Ucrânia de exportar grãos para a Polônia por ferrovia: fileiras de armas estão vindo de lá, e ninguém as impede de transportar os grãos pelas mesmas fileiras", notou ele.
"No que diz respeito aos meios de transporte marítimo, estamos dizendo que não somos a fonte deste problema. Mais uma vez, não somos a fonte de problemas que levam à ameaça da fome no mundo. As fontes deste problema são quem impôs sanções e as próprias sanções, que estão em vigor", continuou.
Dmitry Peskov explicou ainda que a Rússia concorda com os temores de António Guterres, secretário-geral da ONU, quanto ao surgimento de uma crise alimentar global, "e o presidente Putin também concordou com este perigo potencial quando teve uma conversa recente" com ele.
Peskov referiu que Vladimir Putin, presidente da Rússia, já avisou que as sanções levaram ao colapso que agora se vê no mercado, e que as minas colocadas pela Ucrânia, que tornaram a rota marítima insegura, também contribuíram para isso.
"São necessárias medidas especiais para que a navegação seja retomada. Foi sobre isso que o presidente falou."
Retórica militar da União Europeia
O porta-voz do Kremlin também duvida das credenciais diplomáticas de Josep Borrell, chefe das Relações Exteriores da União Europeia (UE), que defendeu a criação de um Exército Europeu em meio à operação especial russa na Ucrânia.
"Em geral sabemos que o senhor Borrell não é defensor de métodos diplomáticos para resolver problemas, apesar do cargo que ocupa. Ele também demonstra constantemente uma propensão para métodos de força, inclusive publicamente", afirmou Peskov.
"Aqui está exatamente a ideia de militarização e a ideia de bombear ainda mais a Ucrânia com armas e assim por diante. Tudo isso são coisas que não contribuirão para fortalecer a segurança, a estabilidade e o continente europeu", frisou o porta-voz de Putin.