Dmitry Peskov, porta-voz presidencial russo, comentou na quarta-feira (1º) as palavras de Vladimir Zelensky de que os lançadores múltiplos de foguetes HIMARS fornecidos pelos EUA, e que têm alcance de até 80 quilômetros, não serão disparados contra a Rússia.
Na terça-feira (31), uma fonte na Casa Branca comunicou que os HIMARS foram enviados à Ucrânia com a condição de não serem usados contra o território russo.
"Não, para confiar é necessário ter experiência de situações em que tais promessas foram cumpridas. Infelizmente, não há tal experiência. Pelo contrário, todo o curso dos acontecimentos confirma que, começando pela principal promessa pré-eleitoral de Zelensky de acabar de uma vez por todas com a guerra no sudeste da Ucrânia, elas não foram cumpridas", observou Peskov.
"Nenhuma das provisões [dos Acordos] de Minsk foi cumprida, elas caíram no esquecimento, e isso foi por culpa do lado ucraniano, então não temos crédito de confiança no lado ucraniano", assinalou ele respondendo à questão se o Kremlin confia nas declarações de Zelensky.
Em resposta à pergunta se há ou não risco de Kiev começar a usar as armas recém-fornecidas contra a Rússia, o porta-voz disse que as autoridades relevantes estão avaliando sistematicamente os riscos e tomando as medidas necessárias.
O porta-voz de Vladimir Putin, presidente da Rússia, sublinhou também que o fornecimento de armas a Kiev não contribui para o governo ucraniano retomar negociações com Moscou.
"Já dissemos que aqui não há nada de novo. Nós consideramos que os EUA estão acrescentando lenha na fogueira metódica e diligentemente. Está claro que os EUA mantêm realmente a linha de lutar contra a Rússia até o último ucraniano. Tais fornecimentos não contribuem para o surgimento da vontade da liderança ucraniana para retomar as negociações de paz, então, claro que temos uma atitude negativa sobre isso", falou Dmitry Peskov após pergunta sobre a reação do Kremlin ao fornecimento de armas para Kiev.
Crise alimentar mundial como resultado
A questão dos grãos continua na agenda, ela se deve às ações de Kiev, segundo o porta-voz presidencial da Rússia.
"Estamos potencialmente à beira de uma crise alimentar muito profunda devido a restrições absolutamente ilegais contra um dos principais fornecedores mundiais, ou seja, nós, e ligada às ações das autoridades ucranianas, que minaram as entradas dos portos do mar Negro, o que impede a saída do trigo de lá, enquanto a FR [Federação da Rússia] não impede isso de maneira nenhuma", disse ele.
De acordo com Peskov, a Rússia está pronta para acompanhar os navios que carregam grãos até as águas internacionais, sem criar qualquer obstáculo.
"O lado turco e outros lados receberam uma explicação detalhada do presidente Putin, e, basicamente, todos os chefes de Estado e de governo que conduziram negociações ultimamente, e também António Guterres, secretário-geral da ONU, receberam diretamente uma explicação de Putin de que a Rússia não bloqueia" a passagem, relatou.
"Mais que isso, se a Ucrânia acabar mesmo por decidir desminar os portos e criar condições para uma navegação marítima segura, então a Rússia estará pronta a ajudar no acompanhamento até as águas internacionais dos navios que estarão carregados de grãos. Não há qualquer obstáculo por parte da Rússia, mas ao mesmo tempo a Rússia não é o lado que minou esses portos. Continuamos trabalhando nessa questão."