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Fim da concentração bancária? Especialista aponta benefícios das fintechs e 'riscos' para clientes

Com a digitalização dos serviços financeiros, os cinco maiores bancos do país vêm perdendo terreno e buscando se adaptar à realidade virtual. Segundo especialista ouvido pela Sputnik Brasil, consumidores ganham com maior competição, mas precisam estar atentos à credibilidade das novas empresas.
Sputnik
A pandemia acelerou o movimento, mas os ventos do século XXI já eram favoráveis à expansão das fintechs. As instituições financeiras digitais, que vinham tomando fatias de um mercado historicamente dominado por grandes bancos, ganharam ainda mais visibilidade em meio à crise sanitária mundial.
Um levantamento do Banco Central (BC), publicado pelo jornal Valor Econômico, aponta um crescimento de 15% na quantidade de opções para os brasileiros no setor financeiro nos últimos três anos. Em fevereiro deste ano, o país passou a ter, no total, 649 bancos e fintechs.
Apesar disso, as cinco maiores instituições — Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil — ainda controlam 72,6% do crédito à população e 63,1% das receitas entre 441 conglomerados prudenciais, de acordo com o BC.
Fachada do Banco do Brasil na Avenida Paulista, Zona Central de São Paulo. Foto de arquivo
Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), o processo de surgimento de fintechs ainda está longe do fim. O especialista afirma que nos próximos anos o país verá a continuidade da substituição das agências bancárias por serviços financeiros on-line.

"O número de agências físicas vai diminuir cada vez mais. A tendência é que precisemos menos, o que abre espaço para fintechs. Sendo competitiva e prestando bons serviços, consegue atrair o cliente", disse Teixeira.

O coordenador da FGV ressalta, no entanto, que credibilidade é uma palavra-chave para as empresas que desejam sobreviver no segmento.

"Logicamente é uma questão muito importante para instituições financeiras ter credibilidade e solidez, que vêm da competência de quem gere", advertiu.

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Fim das agências bancárias?

Se atualmente ainda abocanham a maior parte do mercado, há algumas décadas, sem a concorrência digital, o predomínio era evidente. O coordenador de Gestão Financeira lembra que a tendência de buscar bancos com grande oferta de agências, em distintas praças, facilitou a concentração.

"Hoje, com apps de bancos permitindo transações financeiras, a quantidade de agências perde importância. Fintechs nem agência têm", destacou Teixeira.

Agora, segundo ele, concomitantemente à perda de agências físicas, os brasileiros vão ganhar em melhores aplicativos de bancos. O investimento na qualidade dos serviços on-line será tão fundamental quanto as agências foram um dia.

"No futuro, a tendência mesmo é que as grandes instituições, bem geridas, tratem 90% das suas transações de forma digital. A acessibilidade, que causou a concentração, não será tão necessária", indicou o especialista.

Por enquanto as agências continuam sendo necessárias, ele pondera, já que boa parte da população ainda não tem fácil acesso à Internet.

"A população mais pobre, que é majoritária no Brasil, ainda não tem acesso aos canais digitais com a facilidade que outras classes sociais têm", disse.

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Segundo o especialista, porém, ainda que gradual, o movimento de digitalização com a consequente desconcentração bancária é benéfico para os consumidores. Com maior competição, as instituições precisarão buscar serviços melhores e mais baratos para atrair clientes.

"A redução da concentração claramente cria uma competição, aumenta a competitividade. Quanto mais 'players' prestando serviços semelhantes, mais as tarifas tendem a cair, mais as instituições ficam abertas e investem em um bom atendimento aos clientes. Mas deve-se sempre tomar cuidado com a solidez e a credibilidade dos serviços", recordou.

Segundo Teixeira, os "riscos existem, e temos que estar atentos a eles". O especialista explica que em nenhum caso é possível ter conhecimento total sobre a gestão da empresa, mas é sempre recomendável realizar pesquisas e comparações de mercado antes de confiar em novas instituições.

"A democratização é muito boa, mas também se perde um pouco de informação", afirmou, ao comentar que com a concentração era menos complexo entender o mercado. "Por isso é sempre muito importante estudar bem a instituição onde colocar os recursos."

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