Panorama internacional

'Rússia está isolada do Ocidente, mas o Ocidente está isolado do resto do mundo', diz Berlusconi

Apesar de elogiar os passos dados pelos países ocidentais contra a Rússia desde que ela começou sua operação especial na Ucrânia, o ex-premiê da Itália vê pouca adesão pelo mundo afora às políticas antirrussas.
Sputnik
Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália (1994-1995, 2001-2006 e 2008-2011) lamentou na quinta-feira (2) que suas tentativas de trazer a Rússia para o lado das potências ocidentais tenham sido na época "boicotadas" por alguns líderes europeus e sugeriu que a questão de quem está "isolado" como resultado da crise da Ucrânia (a Rússia ou o Ocidente) é uma questão de perspectiva.
" [...] Diante de uma clara violação do direito internacional e das regras em vigor mesmo em tempos de guerra, a Europa e o Ocidente reagiram de forma equilibrada, firme e, sobretudo, unida. Deste ponto de vista, a Rússia já perdeu seu jogo: se considera o Ocidente um adversário, hoje enfrenta um adversário muito mais unido e mais determinado do que nos últimos anos. Entretanto, as coisas mudam se considerarmos o cenário ao nível global", escreveu Berlusconi em um artigo de opinião no Il Giornale.
O político sugeriu que, do último ponto de vista, "a crise ucraniana tornou evidente uma realidade muito amarga": a de, que, além dos EUA e seus aliados na Europa, o Japão e a Austrália, poucos outros países se juntaram ao Ocidente em seu boicote a Moscou, com a própria Turquia se recusando a aderir a seus aliados da OTAN nas sanções contra a Rússia.
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"Em vez disso, o que a crise ucraniana nos mostrou é um sinal alarmante para o presente e sobretudo para o futuro: a Rússia está isolada do Ocidente, mas o Ocidente está isolado do resto do mundo", escreveu ele, acrescentando que o conceito ocidental de "democracia liberal" se aplica a menos de um quarto da população do planeta, com "os maiores países do mundo, China, Índia, Rússia e dezenas de nações asiáticas, africanas e latino-americanas não estando com o Ocidente no momento".
Apesar de elogiar os sucessos econômicos, políticos e sociais do Ocidente, Berlusconi exortou os líderes a reconhecerem que o mundo ocidental, devido à ausência de uma liderança firme e à falta de autoconfiança, não conseguiu criar um sistema de alianças ou um modelo político ou econômico a que outros países aderissem ou seguissem, comparável aos propostos pela China, como a Rota da Seda.
"Pelo contrário, o Ocidente tem registrado alguns retrocessos desastrosos, por exemplo no Afeganistão, que minaram ainda mais sua credibilidade aos olhos das classes dirigentes e da opinião pública de todo o planeta", escreveu.
Por fim, Silvio Berlusconi instou a UE a aumentar sua assertividade militar, política e energética, dizendo que "só podemos ser 'gigantes econômicos e anões políticos' desde que alguém esteja disposto a tomar conta de nossa segurança e liberdade", disse. No entanto, sublinhou que “há sinais crescentes de uma inevitável diminuição do papel de Washington como guardião da segurança coletiva”, à medida que os EUA concentram seus esforços cada vez mais na região da Ásia-Pacífico.
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