O chanceler alemão, Olaf Scholz, entregou uma "mensagem oculta" ao presidente Zelensky durante a visita de quinta-feira (16) à Ucrânia. Segundo o Welt, a mensagem informava que Berlim não forneceria a Kiev nenhum "atalho" para a adesão à União Europeia (UE).
"Mesmo no contexto do evento político da visita, Scholz continua sendo o mais cauteloso. Os líderes das três principais economias da Europa são a favor de que a Ucrânia receba o status de candidata à adesão à UE. Essa é a mensagem. Mas enquanto Macron e Draghi falam de um 'caminho' que já teria começado, Scholz fala de um 'caminho cheio de pré-requisitos'. É semântica, mas algo para se levar a sério", observou o jornal em uma longa resenha resumindo a missão diplomática.
Para a Ucrânia ser admitida no bloco, precisaria intensificar a luta contra a "notória corrupção" e construir um Estado funcional e constitucional com uma economia liberalizada, tudo isso impossível enquanto o conflito com a Rússia continuar, observou a mídia. Ao mesmo tempo, a própria UE também deve "mudar" antes que um país tão grande quanto a Ucrânia possa aderir, substituindo o princípio da unanimidade nas principais tomadas de decisão pelo governo da maioria.
O conceito de representação proporcional, substituindo a regra de um comissário da UE por país, "também deve ser superado", observou o jornal, citando sentimentos supostamente expressos em Berlim.
"Ninguém diz isso oficialmente, mas as considerações na chancelaria são as seguintes: que apenas uma união fundamentalmente reformada seria capaz de expansão", enfatizou Welt.
A abordagem ao "estilo tutoria" de Scholz estava em desacordo com os sentimentos expressos pela presidente da Comissão Europeia (CE) e ex-ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, que tuitou na sexta-feira (17), após o retorno do chanceler a Berlim, que os ucranianos estavam "prontos para morrer pela perspectiva europeia" e que o bloco quer "que vivam conosco pelo sonho europeu".
A CE recomendou conceder à Ucrânia o status de candidata à UE ainda na sexta-feira, com uma decisão formal a ser tomada pelos líderes do bloco em sua próxima cúpula, de 23 a 24 de junho em Bruxelas.
Observadores alertaram que um movimento para incluir a Ucrânia no bloco pode desencadear seu colapso ou transformá-lo em uma bagunça disfuncional e incoerente de contradições. Neste domingo (19), o ex-presidente russo Dmitry Medvedev sugeriu que a UE poderia entrar em colapso antes da adesão da Ucrânia e previu que a adesão não seria possível até meados do século, de qualquer forma.
A Croácia teve que esperar cerca de dez anos antes de ingressar no bloco em 2013. A Turquia, que era comparável na década de 1980 à Ucrânia contemporânea em termos de população, desenvolvimento econômico e conflitos políticos e interétnicos, solicitou a adesão à Comunidade Econômica Europeia, a antecessora da UE, em 1987 e foi declarada elegível para aderir à UE em 1999, mas ainda não recebeu resposta de Bruxelas.