De acordo com a Science Alert, uma nova análise do meteorito Chassigny, que caiu na Terra em 1815, sugere que a forma como Marte obteve seus gases voláteis é diferente dos modelos atuais sobre a formação de planetas.
Segundo os modelos atuais, os planetas nascem dos restos de material estelar, sendo que as estrelas se formam a partir de uma nuvem nebular de poeira e gás quando um denso aglomerado de material colapsa sob a gravidade. Com o movimento de rotação, o material se aglomera desde a nuvem ao seu redor permitindo-lhe crescer.
O material acaba por formar um disco, girando em torno da nova estrela. Dentro desse disco, poeira e gás começam a se agrupar em um processo que dará origem ao planeta bebê. Como os instrumentos de que dispomos já haviam vislumbrado outros sistemas planetários bebês se formando dessa maneira, a ciência buscou e obteve evidências em nosso próprio Sistema Solar que sugerem que ele se formou da mesma maneira, cerca de 4,6 bilhões de anos atrás.
A única parte difícil de compreender é como e quando certos elementos foram incorporados aos planetas.
Uma cratera "fresca" na superfície de Marte capturada pela câmera HiRise da NASA a bordo do Mars Reconnaissance Orbiter
© Foto / NASA/JPL/University of Arizona
Os modelos atuais assumem que os gases voláteis são absorvidos por um planeta fundido, em formação a partir da nebulosa solar. Na fase em que o planeta está tão quente e pastoso, os elementos voláteis seriam sugados para o oceano de magma global, que é o planeta em formação, antes de mais tarde serem parcialmente desgaseificados para a atmosfera à medida que o manto esfria.
Além disso, mais voláteis são entregues através do bombardeio de meteoritos que haviam sido separados do planeta na medida em que o processo se iniciava. Logo, o interior de um planeta deve refletir a composição da nebulosa solar, enquanto sua atmosfera deve refletir principalmente a contribuição volátil dos meteoritos.
Portanto, a análise de Chassigny pode reconstruir como os voláteis foram incorporados no processo de formação de Marte, que se formou e solidificou de forma relativamente rápida, em cerca de quatro milhões de anos, quando em comparação com os 100 milhões de anos da Terra.
O que já sabemos é que a composição de gás nobre do meteorito difere da atmosfera marciana, sugerindo que o pedaço de rocha se desprendeu do manto e representa o interior planetário, portanto, a própria nebulosa solar.
O grande problema é que a partir da medição de uma substância específica, chamada criptônio, as proporções identificadas no meteorito indicam que ele não apenas se desprendeu do corpo marciano, mas que esses meteoritos estavam entregando voláteis a Marte muito antes do que os cientistas pensavam, antes que a nebulosa solar fosse dissipada pela radiação solar.
A partir dos resultados da análise, primeiro Marte adquiriu uma atmosfera da nebulosa solar depois que seu oceano global de magma esfriou, caso contrário, os gases condríticos (cuja origem remonta à formação primitiva de corpos celestes a partir das primeiras interações entre grãos e poeira cósmica) e os gases nebulares seriam muito mais misturados do que a equipe observou.
Porém, a equipe salienta que, quando a radiação solar acabou por queimar os restos da nebulosa, também deveria ter queimado a atmosfera nebular de Marte, o que significa que o criptônio atmosférico presente no meteorito deve ter sido preservado em algum lugar, provavelmente nas calotas polares.
O estudo revela mais perguntas que respostas, mas certamente contribui para a nossa compreensão da formação atmosférica dos planetas de nosso sistema.