Panorama internacional

Analista: após expansão, BRICS assumirá liderança no mundo em vez do Ocidente

A expansão do BRICS pode fragmentar o mundo até dimensões não conhecidas desde a Guerra Fria e abrir portas para uma nova era da "globalização vertical". Além disso, caso o grupo seja expandido, os EUA não vão dominar a política global pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, acredita o cientista político canadense Abishur Prakash.
Sputnik
Segundo o analista da edição South Morning China Post, as ideias discutidas pelos países do BRICS indicam os contornos da formação de uma nova ordem mundial. Prakash defende que, se o mundo for dividido como resultado da expansão do BRICS e da adesão ao grupo de novos membros, tais como a Arábia Saudita e a Argentina, o Ocidente pode se tornar o lado perdedor.

"O aspeto mais significativo da cúpula é a possibilidade da expansão do grupo [...] através da adesão de novos membros, nomeadamente da Arábia Saudita e da Argentina. Isso fragmentaria o mundo em uma escala nunca vista desde a Guerra Fria e abriria portas para uma nova era de 'globalização vertical' [...] No final, o Ocidente pode se tornar o lado perdedor", afirma o analista canadense.

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Abishur Prakash supõe que a principal vantagem que os países do BRICS vão possuir, após uma eventual expansão, é sua dominância no mercado alimentar global. Em particular, o cientista diz que o BRICS expandido vai ter o cesto alimentar que "todo o mundo deseja", tendo em conta, antes de mais nada, os países em desenvolvimento.
"Vamos examinar, por exemplo, o problema da escassez alimentar global. A Argentina é o segundo maior exportador mundial de milho, depois dos Estados Unidos. A Arábia Saudita […] possui 35% da Olam Agri, um dos maiores fornecedores mundiais de cacau, arroz e café. Incluam o arroz e trigo indianos, a cevada e óleo de girassol russos, o algodão chinês e a soja brasileira, e o BRICS expandido tem o cesto alimentar que todo o mundo deseja. É provável que o BRICS+ possa estabelecer uma troca de alimentos em que as nações compram suas necessidades essenciais, como trigo, arroz ou milho", destacou o colunista.
Cerimônia de Encerramento do Fórum Empresarial do BRICS (foto de arquivo)
Além disso, Prakash salientou a posição vantajosa em que o BRICS expandido vai se encontrar em meio à crise energética global.

"Além da escassez alimentar global, o mundo atual está também enfrentando uma crise energética", diz o cientista. "Levem em conta que a Rússia e a Arábia Saudita juntas produzem quase 20 milhões de barris do petróleo por dia, mas até agora no mundo não tem havido nenhum grupo que reúna exportadores e importadores. O BRICS+ poderia mudar a situação", afirmou.

Para provar a sua argumentação, Abishur Prakash lembra que a Índia e a China são os maiores consumidores do petróleo produzido pela Rússia e Arábia Saudita, também membros desse possível grupo. O analista supõe mesmo que, se os exportadores de petróleo começarem a definir preços de acordo com a dinâmica interna do BRICS+, o grupo poderá se converter em uma segunda OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo, constituída por 13 nações).
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Para resumir, o autor do artigo destacou que, independentemente do papel que o BRICS+ decidiria desempenhar na escala global, a expansão do grupo implicaria múltiplas mudanças na ordem na qual o mundo de hoje funciona.
Quanto ao papel do Ocidente, ele salientou que a liderança global dos Estados Unidos já é uma questão do passado. Hoje em dia, defende Prakash, não só os rivais dos EUA, como a China e a Rússia, se juntam; ou seja, o mundo atual é mais multipolar, pois mesmo certos parceiros norte-americanos optam por uma política externa mais diversificada, sendo a Arábia Saudita o exemplo mais notável.
"Agora, alguns dos parceiros norte-americanos mais próximos, como a Arábia Saudita, estão buscando alternativas. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos não estariam no centro do grupo que determina a política global", defende o especialista em geopolítica.
Presidente Jair Bolsonaro durante a 12ª Cúpula do BRICS
O colunista chama a atenção para o fato de a expansão do BRICS poder continuar mesmo após a adesão da Arábia Saudita e Argentina. Entre os países que possam manifestar o desejo de se juntar à formação do grupo renovado destaca-se a França.

"Imaginem que o BRICS+ esteja presente em cada região com exceção da Europa, e há pelo menos um país na Europa que poderia manifestar seu desejo de se juntar: a França. Os franceses ainda se sentem feridos devido à criação da aliança AUKUS (Austrália, Reino Unido, Estados Unidos – acrônimo na sigla em inglês), e a França é uma das poucas nações ocidentais que não assumiu uma posição abertamente hostil em relação à Rússia [depois do início da operação militar especial russa na Ucrânia]."

Ao concluir, Abishur Prakash diz que o BRICS+ vai ser uma demonstração do fracasso da política ocidental de isolamento da Rússia em meio à sua operação militar na Ucrânia.
"Pode ser o BRICS+ em vez do G7 a gerar soluções para tudo, desde a segurança alimentar e a política monetária até a produção energética."
O presidente argentino Alberto Fernández expressou na sexta-feira (24), ao participar virtualmente da XIV Cúpula dos líderes do BRICS, a aspiração da Argentina de ser "membro pleno" do bloco, que integra o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Após a Argentina, o Irã também manifestou interesse em ingressar no grupo das cinco principais economias emergentes, segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh.
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