"O desempenho econômico da Argentina é muito sensível à balança de pagamentos, sobretudo com relação à conta de capitais. Ou seja, a Argentina depende sensivelmente de dólares. Essa crise atual é mais um capítulo que cria dificuldades para o país captar dólar", apontou Andrade.
"Os termos de intercâmbio para a Argentina são muito desfavoráveis, de tal forma que uma crise de confiança faz o mercado de capitais deixar de aportar recursos e investimentos de longo prazo", avaliou o professor da ESPM.
"Metade do governo é contra, da base do governo de Kirchner, e a situação social está muito agravada. Não deu para reverter os danos dos quatro anos neoliberais de Macri como o período Kirchner [2003 a 2015], com Néstor e Cristina, conseguiu após os mandatos de Carlos Menem e o desastre que foi [Fernando] de la Rúa e o governo-tampão de [Eduardo] Duhalde. Estamos diante de uma crise política que vem desde o governo Menem, quando este abriu mão da soberania do país", disse Rocha.
Impactos no Brasil
"O Brasil é grande consumidor de trigo da Argentina, e essa é uma commodity que segue os preços internacionais, que já estão elevados desde o conflito na Ucrânia. Diria que o Brasil não deve se preocupar tanto, a não ser alguns exportadores que desaguam produtos na Argentina", explicou.
"Tanto o governo de Jair Bolsonaro como o do ex-presidente Michel Temer abandonaram as relações Sul–Sul como prioridade e voltaram à situação de vassalagem para com os Estados Unidos e o mundo europeu. Mas é muito complicada uma crise argentina diante de uma crise econômica brasileira. É como se o que resta de motor industrial na América do Sul estivesse indo a pique. Isso é preocupante para todos. E pode prejudicar, sim, as cadeias integradas. A desindustrialização nos afeta, no Brasil, e a Argentina também", disse Rocha.