Panorama internacional

EUA tentam distanciar Alemanha da Rússia, mas Moscou não vai repetir erros da URSS, diz analista

Um dos objetivos ocultos dos Estados Unidos no conflito na Ucrânia é piorar as relações entre a Rússia e a Alemanha, acredita o professor da Universidade Hanshin sul-coreana, Lee He Yon.
Sputnik
Segundo o analista, nas condições de inevitável "transformação do mundo unipolar em multipolar" os EUA não vão se beneficiar das boas relações entre a Rússia e a Alemanha, estando a última em uma posição especial na Europa e a par de suas capacidades, incluindo as militares.

"Os Estados Unidos têm de pensar o que fazer com a Alemanha, que tem noção de suas capacidades, incluindo as militares [...]. Semear divisão entre a Alemanha e a Rússia é um dos objetivos [dos EUA] ocultos no conflito na Ucrânia. Levando em consideração o posicionamento da Alemanha, seus recursos e seu rearmamento abrangente passam a ser muito mais alarmantes do que, por exemplo, os do Japão. Na Ásia, além de China e Rússia, existe mais uma ameaça [aos interesses norte-americanos], que é a Coreia do Norte, e se na Europa a Alemanha se rearmar, significaria muito para a Rússia. Os EUA têm forçado a Alemanha e o Japão a se rearmarem", explicou Lee He Yon à Sputnik.

Conforme o analista, a Alemanha na verdade representa uma ameaça para a Rússia, e "um dia será preciso fazer algo com isso", através de certo acordo com a parte alemã.
Presidente russo, Vladimir Putin, em uma coletiva de imprensa após a reunião com o chanceler alemão Olaf Scholz em Moscou, 15 de fevereiro de 2022
Ao mesmo tempo, afirmou que a Rússia, em seu confronto com os Estados Unidos, não planeja repetir os erros da União Soviética e resistir aos EUA sozinha. Em vez disso, diz o analista, a Rússia vai manter ou até desenvolver ainda mais uma espécie de aliança com a China, bem como entrar em novos mercados, tais como da Índia, do Médio Oriente ou de países do Sudeste Asiático.

"A Rússia tem um passado, em que a União Soviética, como uma grande potência, perdeu para os Estados Unidos sozinha, e por isso a Rússia agora não quer repetir os erros do passado, ao planejar seguir mantendo uma espécie de aliança com a China, e ainda mais. Isto é, trata-se de uma transformação do sistema unipolar para o bipolar, no sentido militar e político, e para o sistema multipolar no sentido econômico", supõe o professor da Universidade Hanshin.

O analista acredita que tanto a Rússia como a China são bem diferentes de cerca de 15 anos atrás. Segundo Lee He Yon, a União Soviética, e depois sua sucessora – a Rússia, não conseguiram resistir aos Estados Unidos, mas hoje em dia a Rússia consegue fazê-lo, embora a Ucrânia se encontre com muitos apoiadores no conflito, acrescentou.
Nesse contexto, além da cooperação com a China, a Rússia, levando em consideração seus recursos naturais, pode entrar em novos mercados, tais como da Índia, do Médio Oriente, da Indonésia e de países do BRICS, salientou o analista.
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"A China e a Índia são a favor da Rússia. Há novos mercados. Ou seja, não se pode falar de isolamento [da Rússia], porque não se pode isolar um continente inteiro."
De acordo com o professor, o objetivo de Moscou é levar a cabo um grande golpe geopolítico, e o conflito [na Ucrânia] só terminará quando a Ucrânia deixar de representar uma ameaça no processo de alcançar esse objetivo. A longo prazo, diz o analista, o posicionamento russo em relação a uma nova arquitetura de segurança vai se basear no princípio de "com" (com a Europa), em vez de "em" (na Europa).
"Não tentem nos envolver nessa arquitetura, somos de outra classe", assim se posiciona a Rússia, segundo Lee He Yon. A Rússia, acredita ele, quer participar da construção do novo sistema, e se uma "oferta" relacionada com esta construção não parecer confiável, a Rússia recusará.
"A Rússia em 2008, 2014 e 2021. Em cada caso, trata-se de uma Rússia diferente. É por isso que em Moscou resolveram mudar o paradigma agora. 'Hide and bide' [esconder e esperar] é uma estratégia [escolhida pela Rússia] que significa 'esconder sua força e esperar debaixo das asas'", concluiu o professor.
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