Tal como há dez anos, os investidores estão questionando se certos países da Zona Euro podem continuar rolando suas dívidas públicas, que aumentaram de forma rápida durante a pandemia e estão se tornando cada vez mais difíceis de refinanciar à medida que o Banco Central Europeu se prepara para aumentar as taxas de juro.
Em um contexto parecido, há dez anos, Mario Draghi, que na época estava desempenhado as funções de chefe do Banco Central Europeu, pronunciou as palavras "custe o que custar", que assinalavam o seu compromisso de defender o euro em quaisquer circunstâncias. A promessa de Draghi levou a uma grande reviravolta na crise do euro. Agora é a Itália, liderada pelo mesmo Draghi, que está no epicentro da crise econômica. A principal razão da crise é a total ausência de crescimento econômico, ao contrário da situação de gastos excessivos que quase levou a Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha à beira da inadimplência há uma década.
O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, fala por telefone com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Há dias, o primeiro-ministro italiano afirmou que pretendia renunciar ao seu cargo, em meio à crise política e divergências com o maior partido da coalizão do governo.
"Quero anunciar que nesta noite entregarei a minha renúncia ao presidente", disse Mario Draghi ao seu gabinete.
Contudo, a seguir, o presidente italiano, Sergio Mattarella, comunicou que não tinha aceitado a renúncia do primeiro-ministro.
Mario Draghi, que atualmente tem 74 anos, até recebeu o apelido de "Super Mario", devido à sua longa carreira de especialista na resolução de problemas financeiros. Mesmo assim, agora parece que se encontra em uma situação desesperante.
"Isso demonstra que não sou um escudo contra todos os acontecimentos. Sou humano, e às vezes acontecem coisas diferentes", cita a Reuters parte das palavras de Draghi.
"A questão mais profunda é que a economia italiana é grande o suficiente para derrubar toda a restante periferia da Zona do Euro, por a sua dívida pública de 2,5 trilhões de euro [R$ 13,6 trilhões] superar as de todos os outros países restantes em conjunto e ser demasiado grande para ser resgatada", diz o artigo.
"O verdadeiro problema é que a Itália ao longo de duas últimas décadas tem demonstrado baixas taxas de crescimento econômico", afirmou Moritz Kraemer, economista-chefe do Landesbank Baden-Wurttemberg, gigante bancário alemão. "A situação fiscal não é a causa, trata-se das consequências dessa fragilidade", acrescentou.
Salienta-se que a Itália nunca enfrentou o estouro de uma bolha imobiliária durante a crise financeira mundial de 2008-2009, e seus problemas orçamentários eram menores do que os dos outros quatro países problemáticos (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha).
Assim, comunica a Reuters, a Itália nunca precisou requisitar um programa de resgate especial da chamada Troika, composta pelo Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
Segundo a edição, agora o país mediterrâneo pode vir a se arrepender.
"Sob pressão e apoio dos credores internacionais, Portugal endireitou o seu orçamento de Estado, a Espanha e a Irlanda superaram problemas nos respetivos setores bancários e até a Grécia fez reformas, incluindo em seu sistema previdenciário, no mercado laboral e na regulação de produtos. Estes esforços fizeram com que os três países, em maior ou menor escala, voltassem ao crescimento econômico", destacou a publicação.
A Itália, pelo contrário, fez pouco para acelerar o seu crescimento, apesar de certas mudanças no seu sistema previdenciário, mercado laboral e, já com Draghi no poder, no seu sistema judiciário notoriamente lento.
Como resultado, o país, que, segundo a Reuters, antes era considerado "o melhor dos piores", agora é o que paga mais para pedir emprestado no mercado de títulos depois da Grécia – país que entrou em default duas vezes na última década e ainda é classificado como "lixo".