Em junho, a Organização Meteorológica Mundial (OMM)
fez um alerta indicando que o evento climático
La Niña vai se prolongar pelo menos até o fim de agosto e pode persistir até o início de 2023. Essa seria a terceira vez que o fenômeno ocorre em um período tão prolongado desde o início das medições, em 1950.
A OMM aponta que "o
evento climático é responsável pelo resfriamento em grande escala das temperaturas da superfície oceânica no oceano Pacífico Equatorial central e oriental, com mudanças na circulação atmosférica tropical, ou seja, ventos, pressão e precipitação".
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, aponta que "os efeitos da ação humana no clima amplificam os impactos de eventos naturais como o La Niña e estão influenciando, cada vez mais, os padrões climáticos, em particular por meio de calor e seca mais intensos e do risco associado de incêndios florestais, recordes de chuvas e inundações".
Em entrevista à Sputnik Brasil, Mozar de Araújo Salvador, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), acredita que "é relativamente seguro afirmar que o atual La Niña deve continuar durante o inverno e o início da primavera".
O meteorologista explicou que essa extensão do período do La Niña se deve a "ventos acima da média no sentido de leste para oeste [que] têm predominado próximo à superfície sobre o oceano Pacífico Equatorial".
"Essa condição atmosférica causa o deslocamento das águas mais quentes da superfície mais para oeste, permitindo que as águas mais nas camadas inferiores do oceano atinjam a superfície próxima ao continente sul-americano, em um processo chamado ressurgência", disse.
O engenheiro Francisco de Assis Souza Filho, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), enfatizou em entrevista à Sputnik Brasil a importância de se avaliar o grau de intensidade do La Niña para dimensionar o real impacto do fenômeno
no Brasil até o fim do ano — o que agora não seria possível.
O especialista destaca que o La Niña e o El Niño não são eventos simétricos. Enquanto o El Niño promove o bloqueio de massas de ar e inevitavelmente provoca muita chuva no Sul e deixa o Nordeste mais seco, os efeitos do La Niña vão depender da intensidade do fenômeno.
O professor da UFC aponta que para dimensionar o real impacto do La Niña é importante avaliar outros fatores meteorológicos. "Modelos de previsão climática sazonal utilizam outros indicadores, como as variáveis do oceano Atlântico, as condições atmosféricas... Geralmente o El Niño define o resto, mas o La Niña não", disse.
Sobre essa persistência do fenômeno, Assis Souza o relaciona com a oscilação decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês). "Esse é um fenômeno de longo prazo que impacta os fatores climáticos. O efeito da mudança climática, inclusive, às vezes fica mais acentuado ou menos intenso dependendo da fase da PDO", destacou.
Apesar das ponderações do professor da UFC sobre a dificuldade de dimensionar os impactos do fenômeno, o meteorologista do Inmet acredita que "um episódio mais prolongado do La Niña invariavelmente vai impactar de alguma maneira setores econômicos como a agricultura e a geração de energia".
Salvador aponta que é importante monitorar o cenário atual para evitar maiores problemas na economia
e no setor energético, seja pelo excesso ou pela falta de chuvas.