O fenômeno, que pela perfeição do círculo parecia quase ufológico, começou a se esclarecer quando os especialistas chegaram ao local.
Embora as causas do deslizamento que formou o buraco ainda sejam desconhecidas, apurou-se que 200 metros abaixo do poço existe uma mina de cobre, cujas obras provavelmente estão relacionadas ao evento.
A mineradora canadense Lundin Mining é proprietária de Alcaparrosa de Candelaria, uma mina de cobre a céu aberto e subterrânea que produz mais de 150 mil toneladas de cobre fino por ano.
Embora os especialistas em geomecânica do Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) ainda estejam analisando a gênese do orifício, a mineradora decidiu, por precaução, interromper suas operações em um perímetro de cem metros ao redor do local.
"Ao detectar o destacamento, a área foi imediatamente isolada, autoridades regionais e organizações técnicas foram informadas e todos os protocolos de segurança foram ativados. Além disso, os trabalhos subterrâneos foram suspensos e as causas estão sendo analisadas", informou a empresa.
No entanto, a situação tornou-se perigosa, pois especialistas determinaram que o sumidouro, cuja profundidade pode ser comparada à de um prédio de 26 andares, está se expandindo.
"A menos de 600 metros do buraco está o único posto de saúde do município de Tierra Amarilla", explicou nesta semana o senador e ex-prefeito da cidade, Rafael Prohens, quando a polêmica chegou ao Congresso Nacional.
Responsabilidade
Embora ninguém tenha ficado ferido pela erosão, a história teria sido diferente se tivesse acontecido em um local povoado.
Isso motivou e deu início a várias investigações paralelas: de autoridades locais, do governo e do Poder Legislativo para apurar possíveis negligências e responsabilidades.
O buraco gigante na área de mineração da cidade de Tierra Amarilla, no Deserto do Atacama, Chile, em 1º de agosto de 2022
© AFP 2023 / Johan Godoy
O Serviço Regional do Ministério de Minas (Seremi de Minería) ordenou que a empresa paralisasse todas as operações em seu local de mineração que possam estar relacionadas ao buraco gigante.
Da mesma forma, pediu para colocar mais segurança no perímetro adjacente para impedir a passagem de pessoas ou veículos pelo setor, e ordenou que a empresa colocasse guardas para controlar a área circundante.
"Desde o primeiro momento, como governo, tomamos conhecimento do que aconteceu, gerando coordenação entre as autoridades políticas, órgãos técnicos, o governo local e a empresa para tomar as melhores decisões", informou o Ministério de Minas em comunicado.
No Senado, foi organizada uma sessão especial que reuniu os parlamentares das comissões de Mineração e Recursos Hídricos, a fim de solicitar antecedentes que permitissem determinar responsabilidades.
Os parlamentares pediram para ver relatórios de impacto topográfico e de mineração, e a senadora Yasna Provoste alertou que algo semelhante já havia acontecido em 2013.
Provoste disse que naquele ano desabou uma caverna artificial que se forma quando todo o minério é extraído de uma jazida. O chão cedeu no alto de um morro e deixou um buraco de 30 metros de profundidade.
"Gostaríamos de saber os resultados dos estudos que foram feitos naquela época", pediu a senadora.
Até o momento, as causas mais prováveis deste novo sumidouro, segundo especialistas, é que a terra caiu devido à extração de água em camadas subterrâneas, ou que um túnel ou escavação desabou como resultado das obras de mineração no local.
Terra mineira
As detonações e os ruídos das obras subterrâneas são algo com que, infelizmente, os habitantes da pequena cidade têm que lidar todos os dias, devido às várias minas que cercam o município.
Para alguns moradores locais, uma situação como essa era previsível.
"Sempre tivemos medo de que algo assim pudesse acontecer. Hoje aconteceu neste espaço, em uma propriedade agrícola, mas nosso maior medo é que isso possa acontecer em um local povoado, em uma rua ou em uma escola. Proteger a integridade de nossos habitantes é nossa maior preocupação no momento", disse o prefeito de Tierra Amarilla, Cristóbal Zúñiga.
A autoridade explicou que, embora não esteja confirmado, os moradores acreditam que as empresas mineiras realizam trabalhos subterrâneos em locais e vilas habitadas.
"Estamos preocupados com os danos que as empresas estão causando. Essa mesma [mina Alcaparrosa de Candelaria] já havia sido multada anteriormente pela justiça ambiental. Se essas coisas passarem, eles acabam repassando a conta para a população", concluiu.
A próxima autoridade a entrar no jogo será o Judiciário, já que os vizinhos anunciaram que vão entrar com um recurso de proteção que pode paralisar ainda mais os trabalhos da mineradora.