Na prática, isso muda alguma coisa?
"Sim. Podemos ter energia eólica, solar, das ondas [marítima], seja lá qual for a fonte de energia — desde que ela não tenha emissão de CO2 [dióxido de carbono] em nenhuma parte da cadeia de produção dessa energia —, e temos como resultado o hidrogênio verde", aponta.
"Atualmente, o hidrogênio verde não é tão competitivo devido ao custo de produção. Não temos número suficiente de eletrolisadores, ou as máquinas que vão quebrar o hidrogênio a partir de energia elétrica. Também não temos energia elétrica de fontes renováveis suficiente para se produzir hidrogênio verde. Mas se as empresas estão implantando esses parques, é porque algum tipo de viabilidade tem", disse.
"A produção de hidrogênio a partir de uma matriz totalmente sustentável e renovável seria realizada com o excesso de energia nos horários de pico de produção. Por exemplo, a energia eólica é intermitente; ora está produzindo, ora não. Quando ela estivesse produzindo, e produzindo acima da demanda da rede, seria possível usar esse excesso de energia que estivesse sendo produzida para a produção de hidrogênio. Claro que, para isso, o ideal é que toda a nossa matriz fosse renovável e a gente tivesse um parque eólico grande o suficiente. Do mesmo jeito a energia solar: quando há energia solar acima do que a rede está demandando, essa energia solar seria energia elétrica, de produção fotovoltaica, e poderia ser designada para produção de hidrogênio verde através da eletrólise", explica.
Carros movidos a hidrogênio verde
"Isso vai gerar um combustível limpo, e a partir da queima dele ou da aplicação em células combustíveis, vamos usar uma energia que vem de uma fonte limpa, diferentemente da energia produzida de fontes de petróleo, que libera CO2 no ar a partir da queima, e esse CO2 contribui para aumentar o efeito estufa, o que aumenta a temperatura média global — todos os problemas atuais que já conhecemos", observa o professor.
"Apesar do custo, atualmente em torno de US$ 4 [R$ 20,50] por quilo de hidrogênio produzido, em torno de 2035 o custo de produção será de US$ 1 [R$ 5,12] por quilo. A partir daí, com a implementação de mais eletrolisadores, será possível reduzir ainda mais esse custo. Em torno de 2050, o custo será em torno de US$ 0,75 [R$ 3,84] por quilo de hidrogênio verde produzido. Ou seja, para que isso aconteça, temos que aumentar muito o número de eletrolisadores. É preciso aumentar muito esse parque fabril de hidrogênio, e isso vai acontecendo por escala. Por exemplo, algumas fontes falam que, a cada vez que dobrarmos a nossa produção de hidrogênio, vamos reduzir em torno de 14% o custo de produção", estima Lanzanova.
"É necessário que, independentemente de governo de direita ou esquerda, o Brasil tenha um papel ativo nesse cenário de transição energética. Que possamos utilizar nossa matriz renovável para, além de gerar riqueza para o país, consigamos auxiliar na geração de soluções energéticas ambientalmente viáveis de fato a mitigar o impacto ambiental gerado pela emissão de gases de efeito estufa. Nesse sentido, o governo precisa estudar e implementar maneiras de fomentar a produção desses combustíveis renováveis. Não só do hidrogênio verde, mas também do etanol e do biodiesel, que são combustíveis renováveis e que já são parte da solução nacional para a descarbonização do setor de transportes", conclui.