Candidato nas eleições presidenciais deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu entrevista à emissora CNN Brasil na noite desta segunda-feira (12), na qual teceu duras críticas à Operação Lava Jato, criticou a politização da Justiça, exaltou o agronegócio como "essencial para o Brasil" e falou sobre sua reconciliação com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Lula iniciou a entrevista questionado sobre o papel atual do Judiciário como protagonista político. O ex-presidente afirmou que o país precisa "voltar à normalidade".
"Tem hora que o Poder Legislativo se mete em ser Poder Judiciário, se mete em ser Poder Executivo. O Poder Executivo afronta o Legislativo e afronta o Judiciário. E às vezes o Poder Judiciário se comporta fazendo política. Eu acho que se nos voltarmos à normalidade, ou seja, cada um cumprir com sua função, o governo governa, o Poder Legislativo legisla e o Poder Judiciário cumpre o papel de ser o garantidor da nossa Constituição, eu acho que as coisas voltam tranquilamente à normalidade", disse Lula.
Em seguida, Lula teceu fortes críticas à Operação Lava Jato, que resultou em sua prisão, em 2018.
"Quando houve corrupção na Coreia [do Sul], o que eles fizeram na Samsung? Prenderam o dono da empresa, mas a empresa continuou funcionando. Quando aconteceu na Volkswagen, na Alemanha, o que eles fizeram? Prenderam o dono da empresa, mas o trabalhador continuou trabalhando. Na França, a mesma coisa. Aqui no Brasil eles tentaram destruir as empresas, quem pagou o preço foram os trabalhadores brasileiros, porque a Lava Jato causou quatro milhões e quatro mil postos de trabalho fechados neste país", disse o ex-presidente.
Assim como vem fazendo em outras entrevistas, o ex-presidente destacou ter criado mecanismos de combate à corrupção. "Estou muito tranquilo que nós vamos continuar combatendo a corrupção", disse Lula.
O ex-presidente falou sobre o relacionamento com o setor do agronegócio e afirmou que "nunca o agronegócio teve tanto financiamento quanto no governo do PT". "Eles sabem que, em 2008, nós fizemos uma medida provisória chamada 432, que renegociou a dívida deles, praticamente US$ 75 bilhões [R$ 389 bilhões, na cotação atual], que, se a gente não fizesse isso, eles quebravam", disse Lula.
Lula também falou sobre a reconciliação com Marina Silva, que teve como contrapartida exigências da ex-ministra, como o compromisso com a demarcação de terras indígenas. Questionado sobre como pretende lidar com o compromisso, Lula disse estar "bem tranquilo".
"Eu tenho consciência de que foi no nosso governo que nós fizemos a maior quantidade de reservas de proteção ambiental, a maior quantidade de demarcações de terras indígenas e a maior quantidade de demarcações de terras quilombolas", disse o ex-presidente.
Lula recebe propostas de Marina Silva
© Ricardo Stuckert/Divulgação
No que diz respeito às relações internacionais, o ex-presidente defendeu a necessidade de o Brasil "estar bem com todo o mundo", uma vez que o país não tem contenciosos. Lula também disse que o Brasil não tem que entrar em uma "nova Guerra Fria".
No caso do conflito ucraniano, o petista criticou a falta de habilidade da Europa para lidar com a situação, afirmando que os países europeus deveriam ter buscado mais diálogo, funcionando como um pêndulo na crise em vez de focar na ajuda militar à Ucrânia.
"Era preciso mais conversa, mais seriedade. Eu vejo pouca gente falar em paz e muita gente falar em vender armas", argumentou.
Ainda falando em "seriedade", o ex-chefe de Estado disse que é dessa forma que deve ser tratada a questão do clima e que também está disposto em "tentar mudar a governança na ONU [Organização das Nações Unidas]".
"Não é possível que o Conselho de Segurança apresente a mesma governança dos tempos da Segunda Guerra Mundial. É preciso entrar país africano, latino-americano, a Alemanha e a Índia para que a gente possa, em se tratando da emergência climática, tomar decisões que sejam definitivas e não precisemos levar a discussão para dentro dos Estados nacionais."