Panorama internacional

Um Cinturão, Uma Rota: especialistas destacam futuro comum a ser buscado por Brasil e China

Quais as perspectivas para a cooperação entre China e Brasil? Qual o papel da inovação tecnológica nas relações sino-brasileiras? Especialistas nos laços entre os países trataram desses temas durante encontro ao qual a Sputnik Brasil teve acesso.
Sputnik
Conferência realizada na última quarta-feira (14) entre a Academia da China Contemporânea e Estudos Mundiais (ACCWS, na sigla em inglês), o Centro de Informações da Internet da China (CIIC) e o Instituto Lula reuniu pesquisadores de universidades e centros de pesquisa para tratar das perspectivas das relações sino-brasileiras.
Melissa Cambuhy, que é coordenadora do grupo de trabalho Diálogos Brasil-China do Instituto Lula e pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos Brasil-China (NEBC) da Fundação Getulio Vargas (FGV), destacou em declarações à Spuntik Brasil a importância de um evento no qual os especialistas puderam apontar caminhos para a integração e o desenvolvimento conjunto dos dois países.

"Os avanços econômicos e tecnológicos chineses e a exitosa digitalização da economia chinesa servem não só à China e ao povo chinês, mas a todos os países do sul global, uma vez que vai abrindo novos horizontes de desenvolvimento. Definitivamente temos muito a observar e aprender com a experiência de desenvolvimento chinesa", destacou Cambuhy.

A pesquisadora avalia que esse cenário propicia uma "grande potencialidade" de cooperação com a China para o desenvolvimento do Brasil e outros países em desenvolvimento.
"É interesse de toda a humanidade um mundo multipolar, com instrumentos e espaços de fato multilaterais e uma globalização sem barreiras tecnológicas, que esteja a serviço do desenvolvimento comum, e não do aprofundamento das desigualdades entre os países. Assim, é de interesse da humanidade também que os avanços tecnológicos sejam um bem comum global. [...] Embora o Brasil nos últimos anos venha passando por grandes desafios políticos e econômicos, nós contamos e sabemos que podemos contar com a parceria sino-brasileira para colaborar com a nossa reconstrução nacional no próximo período", destacou.
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Durante o encontro, Yang Xinhua, diretor do CIIC, destacou que China e Brasil são importantes parceiros econômicos e de investimentos e apontou que a economia digital é hoje um dos pilares do crescimento econômico chinês e que pode ser também uma das bases do aprofundamento da cooperação entre os dois países.

"A economia digital vai desempenhar um papel cada vez mais importante na cooperação China–Brasil. O rápido desenvolvimento da economia digital está remodelando a economia mundial e a sociedade. No ano passado, o presidente Xi [Jinping, da China] apresentou a iniciativa para tornar a economia digital uma das oito principais áreas de cooperação, e por isso apontou um novo caminho nas áreas de manufatura inteligente e redução da exclusão digital, e para alcançar um desenvolvimento mais verde", disse Xinhua.

Xinhua defendeu ainda a adesão do Brasil à iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, o programa de financiamento de infraestruturas mundial chinês.
"A China dá boas-vindas para o Brasil se tornar um participante ativo na cooperação sob o Cinturão e Rota. Sabemos que enfrentamos vários desafios, mas temos as ferramentas da economia digital e da inovação tecnológica. Acreditamos que, com as cooperações, podemos injetar mais em dinamismo na economia dos dois países, contribuindo para a justiça social e a prosperidade do povo. [...] A China está firmemente ao lado dos países em desenvolvimento e determinada a aprofundar as relações com o Brasil", declarou o diretor do CIIC.
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Javier Vadell, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), também enfatizou o papel da China para o desenvolvimento do Brasil. Ele defendeu uma "força-tarefa" para fazer frente às pressões dos Estados Unidos contra o aprofundamento da cooperação tecnológica entre os países e pregou um olhar estratégico de Brasília para Pequim.

"Há um triplo desafio. [Primeiro,] saber que a China é um instrumento fundamental para o Brasil escalar posições nas fronteiras tecnológicas em várias áreas. Em segundo lugar, saber negociar estrategicamente para promover a transferência tecnológica. Em terceiro lugar, observar o panorama geopolítico para colocar o Brasil em uma posição de destaque, como já teve", apontou Vadell.

"[O] Brasil pode voltar a ser uma referência em ciência e tecnologia", completou.
O economista Elias Jabbour, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coautor do livro "China: O Socialismo do Século XXI", avalia que a inovação tecnológica desempenha um papel importante na relação entre os países.
Jabbour indicou que as economias dos dois países têm alto grau de complementariedade e citou exemplos de como os países podem expandir essa cooperação, entre os quais em biomedicina, computação quântica, energia limpa e construção de ferrovias de alta velocidade.

"O momento é de olhar para o futuro. E olhar para o futuro é perceber que as grandes nações do mundo são nações capazes de inovar, de chegar na fronteira do conhecimento. A China tem se notabilizado nisso. A China já alcançou os EUA e demais potências capitalistas em várias áreas do conhecimento", disse Jabbour, destacando que o Brasil pode aproveitar esse potencial chinês.

"Existem setores [em] que os países podem cooperar em um nível muito mais alto. [...] Brasil e China têm um futuro comum a ser buscado", disse.
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