Operação militar especial russa

Pessoas vão votar por livre vontade, não tem ninguém com arma obrigando, diz observador brasileiro

A Sputnik Brasil conversou com observador brasileiro dos referendos que aconteceram em Kherson, Lugansk e Zaporozhie. De acordo com especialista, apesar da diferença econômica entre a Rússia e as regiões mencionadas, as pessoas estão indo votar porque acreditam no processo que está acontecendo.
Sputnik
Nesta terça-feira (27), as votações nos postos eleitorais da República Popular de Lugansk e das regiões de Kherson e Zaporozhie acabaram.
Em todos os referendos há, assim como os mesários, observadores que acompanham o processo eleitoral e analisam como o mesmo está sendo feito. Esse é o caso do brasileiro Henrique Domingues, especialista em Relações Internacionais, colunista do Portal Vermelho e observador de outras eleições como no Brasil, por exemplo.
Domingues estuda mestrado em São Petersburgo e chegou para Missão de Observação Eleitoral na região de Zaporozhie na última sexta-feira (23). Entrevistado pela Sputnik Brasil, o especialista diz que sim, há um clima tenso na localidade e as questões de "segurança são bastantes relevantes", mas ressalta que a vida continua e as pessoas vão para o trabalho normalmente.
Domingues conta que a missão dos observadores é entender se os processos dos referendos "têm ares para ser um processo democrático e se as pessoas que trabalham nas sessões eleitorais estão preparadas efetivamente para lidar com o os protocolos".
"A gente chega nas sessões e conversamos com quem está trabalhando, com os chefes, com os mesários e os observadores locais, também dialogamos com os eleitores, analisamos os fluxos para ver se há algum clima de repressão, algum movimento para forçar as pessoas votarem. [...] E percebemos que há uma transparência na posição das pessoas que trabalham lá, uma seriedade, eles entendem o momento que estão vivendo", declarou Domingues.
Sobre os observadores, o especialista afirma que há pessoas da Venezuela, Brasil, Equador, Argentina, México, Itália, França, Sérvia, Bósnia e Herzegovina, Estados Unidos, Síria, Líbano e também países africanos como Moçambique, África do Sul, Camarões, Zimbábue entre outros.
Membros da comissão eleitoral local tiram cédulas de uma urna para contar após o referendo sobre a adesão à Rússia, em uma estação de votação em Novosibirsk, na Rússia, 27 de setembro de 2022
"Nós somos mais de 100 observadores aqui e o sentimento é o mesmo. Há também um time de repórteres que estão fazendo uma cobertura bastante relevante e bastante honesta do que está acontecendo", pontuou.
Domingues diz que, ao mesmo tempo, notou "um desejo dos eleitores de irem realmente votar".
"As pessoas relataram que há muito tempo estão esperando essas resoluções porque desde 2014, as repúblicas que são independentes, se deterioraram absurdamente, então vi idosos com dificuldade de locomoção indo votar e participar do referendo seja qual fosse. [...] Não tem ninguém apontando arma na cara das pessoas para votar, eles vão porque querem, o processo é legítimo."
Operação militar especial russa
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O especialista também afirma que há uma "disparidade absolutamente visível de desenvolvimento econômico logo quando se cruza a fronteira" entre a Rússia e os territórios nos quais os referendos estão sendo feitos.
"A Federação da Rússia é um país desenvolvido apesar de ser chamado de país em desenvolvimento, por exemplo, o sistema de transporte é todo integrado, quase todos os bairros têm hospitais, policlínicas, escolas, etc [...]. E quando cruzamos para o outro território muda muito [...]."
No entanto, Domingues chama atenção para o fato de que apesar da disparidade econômica, a cultural não é tão grande assim. "Quando eu perguntei às pessoas por que elas estão participando do referendo me responderam 'porque somos russos'", disse o especialista, enfatizando que as respostas foram em russo e não em ucraniano.
Uma pessoa vota durante o referendo sobre a adesão das repúblicas populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson à Rússia, na assembleia de voto em Moscou, na Rússia, em 27 de setembro de 2022
"Ouvi pessoas dizerem que depois de 2014 quem falava russo passou a ser excluído da sociedade, passou a ser morto, e nessa época eu tinha acabado de me tornar dirigente estudantil no Brasil e achava curioso como que, naquele momento, forças neonazistas podiam tomar o poder através das armas em um país que estava no centro da Europa. Desde então comecei a seguir o processo e tive contato com pessoas que estavam em Donbass e elas participavam dos eventos para denunciar, até reportagens da BBC chegaram a denunciar, mas agora a narrativa é outra."
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Indagado se alguns observadores internacionais, especialmente dos países da OTAN, estão sofrendo algum tipo de retaliação, Domingues conta que saiu uma notícia dizendo que os ministros ucranianos passaram uma lista para União Europeia sugerindo que as pessoas que observam os referendos sejam sancionadas pessoalmente por alguns países do bloco europeu e do Ocidente.
"Isso [a notícia] me deixou um pouco triste [...] e os observadores ficaram preocupados [...], mas mesmo assim a gente tem consciência do que está fazendo aqui da nossa tarefa e da importância dos observadores internacionais porque se não estivéssemos aqui a gente poderia acreditar que as pessoas estariam debaixo da mira de um fuzil [para votar] o que é surreal como a mídia imperialista tem coragem de desinformar as pessoas", afirmou.
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Jornalistas brasileiras falam com a Sputnik Brasil sobre referendo na República Popular de Lugansk
A entrevista realizada com Henrique Domingues aconteceu pela manhã e em seguida, à tarde, começaram a sair os resultados das votações. De acordo com correspondentes da Sputnik, apuração de 69,4% dos votos do referendo de adesão da República Popular de Lugansk à Rússia, 98,52% dos votos são favoráveis.
Em Zaporozhie com 84% dos votos apurados, mais de 90% dos moradores de apoiam adesão, já na RPL, são 82,8% dos votos apurados e 98,53% favoráveis até o momento.
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