O governo do Haiti está preparando um apelo internacional por ajuda para combater gangues que estão bloqueando o acesso ao porto de Varreux, o principal do país. Segundo informações do Miami Herald, o apelo será enviado ainda nesta sexta-feira (7).
Localizado na capital, Porto Príncipe, o porto de Varreux é o principal terminal de distribuição de combustíveis do país e teve seu acesso bloqueado por gangues em meados de setembro.
O bloqueio se dá em meio a uma grave crise política e humanitária, que levou à escassez de itens de necessidade básica e desencadeou violentos protestos pela renúncia do primeiro-ministro do país, Ariel Henry.
Em meio a isso, o país enfrenta um surto de cólera, com pelo menos 11 casos confirmados, sete mortes e 111 casos suspeitos. Autoridades de saúde local alertam que o número pode ser ainda maior, devido à subnotificação. Escolas estão há um mês fechadas, estradas estão bloqueadas, deixando muitas partes do país incomunicáveis, e a violência sexual contra mulheres vem sendo usada por gangues como tática de coação.
Ofuscado pelo conflito na Ucrânia, o Haiti não vem obtendo espaço nos noticiários e o apoio internacional de que necessita. Na última quinta-feira (6), a vice-representante especial da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, Ulrika Richardson, alertou para o risco de o surto de cólera se alastrar rapidamente e ressaltou que o bloqueio do porto de Varreux torna a situação ainda mais crítica.
"Demandamos a instalação de um corredor humanitário para que o combustível chegue até a cidade [Porto Príncipe] e seja distribuído para o restante do país, para que possamos garantir nossa resposta. Sem combustível, não há água potável. Sem água potável, haverá mais casos [de cólera] e será mais difícil conter o surto", disse Ulrika Richardson.
Ela acrescentou que "seria possível afirmar que as condições levam a uma tempestade perfeita, infelizmente".
Richardson afirmou que é possível encontrar combustível apenas no mercado clandestino, "a preços astronômicos", e que a situação afeta a garantia de serviço básico de saúde a cerca de 30 mil mulheres grávidas e pelo menos 7 mil mulheres vítimas de agressão sexual, que necessitam de assistência médica e psicológica, além de agravar a situação de 45% da população, que atualmente sofre com a fome, e de 1,3 milhão de pessoas que necessitam de auxílio urgente.
"Não temos coleta de lixo há meses por conta da situação violenta gerada pelas quadrilhas de criminosos nas ruas e também por conta da falta de combustível", disse Richardson.