A lei marcial em Lugansk, Donetsk, Zaporozhie e Kherson entra em vigor nesta quinta-feira (20), após ser aprovada também pelo Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento russo). O decreto também introduziu o nível intermediário de resposta em regiões próximas: Krasnodar, Belgorod, Bryansk, Voronezh, Kursk e Rostov, assim como Crimeia e Sevastopol.
De acordo com o presidente russo, serão atribuídos poderes adicionais aos líderes dessas regiões. Putin também afirmou que é necessário criar defesa territorial nelas. Desse modo, o decreto contém diferentes níveis de respostas aos riscos de segurança emergentes. Para fazer essa avaliação, será criado um conselho de coordenação, liderado pelo primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin.
As medidas recentes devem melhorar drasticamente a capacidade, a competência e o desempenho da Rússia, disse à Sputnik Brasil Rogério Anitablian, analista geopolítico. Ele avalia que a crise ucraniana há muito "foi além" de ser um conflito entre Moscou e Kiev e que, na verdade, é um confronto entre a Rússia e o poder combinado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da União Europeia e dos Estados Unidos.
Em sua opinião, as medidas de segurança intensificadas estão sendo adotadas em face dos métodos abertamente terroristas de Kiev, incluindo o bombardeio de áreas civis, ataques de sabotagem e assassinatos de funcionários. A decisão de Moscou de introduzir a lei marcial foi projetada para combater as táticas cada vez mais desesperadas implementadas pelo governo apoiado pela OTAN em Kiev.
"Politicamente, pode haver algum desgaste, mas me parece necessário para assegurar a defesa militar das regiões, em razão dos assédios permanentes e cada vez maiores, patrocinados não apenas por operações convencionais, como também de sabotagem", afirmou.
Ao falar sobre a situação na Ucrânia, Putin ressaltou que o regime de Kiev recusou quaisquer negociações, continuando com seus ataques contra as novas regiões russas, inclusive usando métodos terroristas. "O regime de Kiev, como vocês sabem, se recusou a reconhecer a vontade popular, rejeitando quaisquer negociações", destacou.
Segundo o analista geopolítico consultado pela Sputnik Brasil, "os ucranianos tendem a remarcar o não reconhecimento internacional dos referendos, visando a legitimação da sustentação e continuidade do apoio militar e logístico recebido da OTAN, principalmente junto à opinião pública europeia".
Ele explicou que as negociações neste momento parecem inviáveis, "visto que a OTAN (principalmente Washington e Londres) não parece autorizar o presidente ucraniano [Vladimir], Zelensky, a conduzir negociações sérias".
Rogério Anitablian acha que a liderança russa gradualmente percebeu que a escala original e o escopo da operação militar especial, lançada em fevereiro (projetada levando em conta a preservação da infraestrutura e das vidas ucranianas), foram insuficientes, dado o nível maciço do apoio ocidental a Kiev.
"Sob o ponto de vista estritamente militar, prevejo o acirramento dos combates, principalmente no sul, próximo a Kherson, cidade estratégica inclusive por sua conexão geográfica com a Crimeia", concluiu.
Em 24 de fevereiro, Putin anunciou o início da operação especial para desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, durante a qual o Exército russo, junto com as forças das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, libertou completamente a RPL e uma parte significativa da RPD, bem como toda a região de Kherson, áreas de Zaporozhie e uma parte da região de Carcóvia.
No fim de setembro, em referendos realizados na RPD, na RPL e nas regiões de Kherson e Zaporozhie, as populações locais decidiram, por ampla maioria, pela integração desses territórios à Federação da Rússia, formalizadas no último dia 30 e ratificadas pelo presidente russo no dia 5 deste mês.