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Analistas: Truss sofreu 'golpe moderado' e Partido Conservador do Reino Unido deve perder eleições

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, foi vítima de um golpe do establishment moderado de seu país e seu fracasso significa que o Partido Conservador, atualmente no poder, está condenado nas próximas eleições gerais, disseram especialistas à Sputnik nesta sexta-feira (21).
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Truss renunciou na quinta-feira (20) depois de apenas 44 dias no cargo, o mandato mais curto de qualquer primeiro-ministro do Reino Unido desde que o cargo foi criado, há 300 anos.
O comentarista político britânico e ex-diplomata Peter Ford disse que a rápida queda de Truss foi causada por políticas radicais que ultrajaram o consenso político liberal do país.

"Houve um golpe do establishment 'moderado', anunciado pela BBC, assim como houve um golpe contra [o ex-líder do Partido Trabalhista Jeremy] Corbyn", disse Ford. "Os conservadores estão agora condenados [nas urnas]."

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Incapazes de oferecer ao eleitorado um verdadeiro conservadorismo, os conservadores devem ser "dizimados" na próxima eleição geral pelos trabalhistas ultramoderados, de acordo com Ford.
No Reino Unido de hoje, acrescentou, a mídia corporativa conspirará para derrubar qualquer político que se desvie da série de crenças "moderadas", compartilhadas por parlamentares de todos os partidos.
O ex-diplomata britânico descreveu o que houve com Truss como uma "versão espelhada acelerada do que houve com Corbyn".

"Ambos foram escolhidos por membros entusiastas do partido — um para trazer o socialismo de volta ao Partido Trabalhista de [ex-primeiro-ministro Tony] Blair, outro para trazer de volta o verdadeiro conservadorismo (impostos baixos, especialmente), e ambos foram derrubados por revoltas de parlamentares do que eu chamaria de extremo-centro", disse Ford.

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Políticas contra a Rússia contribuíram para a queda

Ford também disse que Truss se prejudicou ao continuar a feroz política antirrussa que herdou de seu antigo chefe e antecessor, Boris Johnson, que enfraqueceu seriamente a própria economia doméstica do Reino Unido.

"Uma das ironias aqui é que Truss foi, em certa medida, responsável por seu próprio fracasso, porque, como secretária de Relações Exteriores, ela foi coautora com Boris Johnson da política de sanções à Rússia, que saiu pela culatra de forma tão espetacular nas economias do Reino Unido e da União Europeia", disse.

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O aumento nos preços da energia, acrescentou Ford, provou ser a gota d'água que quebrou essas economias, após anos de gastos e empréstimos que lançaram as bases para uma decolagem na inflação.
Ford disse que essas políticas, entre outras estabelecidas, prejudicaram o Reino Unido.

"A devoção inabalável a gastos públicos imprudentemente altos financiados pela criação de dinheiro e empréstimos, um culto ao Serviço Nacional de Saúde [NHS, na sigla em inglês], o alarmismo climático, o liberalismo social minando a família e, claro, o culto à 'defesa' e à OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]."

O ex-secretário adjunto de Defesa dos EUA para Assuntos de Segurança Internacional, Chas Freeman, disse que Truss parece ser a personificação perfeita do Princípio de Peter, pelo qual as pessoas são promovidas acima de seus reais níveis de experiência e competência.

"Sua abordagem ideológica para a formulação de políticas confirmou a impressão que muitos tinham dela, como um pouco idiota com delírios sobre a liberdade de manobra que o Reino Unido ganhou com o Brexit", disse Freeman. "Então ela teve que ir."

Do ponto de vista americano, a velocidade com que ela caiu é inspiradora e desanimadora, acrescentou Freeman.

"Muitos aqui [nos EUA] desejam que nosso sistema permita um despacho igualmente rápido de líderes eleitos que provaram sua ignorância e inépcia além de qualquer dúvida razoável", disse Freeman. "Mas não vão ter."

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