Na disputa eleitoral que definirá o próximo presidente da República, no domingo (30), o Brasil voltou a conviver com uma infestação de notícias falsas. Ao longo dos últimos meses, partidários das campanhas de Lula e Bolsonaro inundaram as redes sociais com as chamadas fake news.
As notícias fraudulentas que circulam nas mídias digitais e na Internet são um problema para as democracias modernas. Nesta reportagem especial, a Sputnik Brasil levantou as principais notícias falsas que circularam pelas redes sociais até aqui. A Sputnik Brasil, antes, reforça a importância de se proteger contra as fake news, verificando-se sempre as informações recebidas e certificando-se da veracidade da notícia antes de compartilhar.
Em 2018, o instituto de pesquisa IPSOS divulgou um estudo que revela que 62% dos entrevistados do Brasil admitiram ter acreditado em notícias falsas, valor acima da média mundial, que é de 48%. Entre ataques ao sistema eleitoral e ofensas pessoais, relembre as principais narrativas que precisaram ser desmentidas por agências de checagem e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Neste ano, o TSE promoveu um trabalho hercúleo para mitigar a propagação desenfreada de informações sem compromisso com a verdade, cujos objetivos são fomentar narrativas e confundir o eleitorado. A iniciativa rendeu críticas, como acusações de abuso de poder por parte do TSE, e apoios, com juízes, promotores e advogados referendando as ações de Alexandre de Moraes, presidente do tribunal eleitoral.
Ataques ao sistema eleitoral
Para além de notícias falsas relacionadas aos principais candidatos à Presidência da República, o Brasil conviveu com uma avalanche de mentiras destinada a desacreditar o sistema eleitoral e os seus representantes. Até mesmo hackers russos foram envolvidos em histórias fantasiosas. É boato que hackers russos avisaram o Exército Brasileiro sobre fraude no primeiro turno e que tenha havido uma invasão de hackers russos ao sistema do TSE.
A Justiça Eleitoral, ao longo dos últimos meses, criou um arquivo na Internet para apontar o que é verdade neste pleito e o que não é. São mais de 26 páginas relatando diversas informações falsas. Entre as mais absurdas estão ilações de fraudes envolvendo o sistema eletrônico, episódios de censura que nunca ocorreram (como o caso do pastor André Valadão) e até mesmo a manipulação do voto de influencers, como a ocorrida com o streamer Casimiro.
Ataques ao presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro foi alvo de diversas informações mentirosas ao longo da campanha presidencial. A mais recente delas foi veiculada na última quinta-feira (27). Passaram a circular nas redes sociais vídeos que mostram o presidente e candidato à reeleição dizendo que faria "um corte linear de 25% nos salários, pensões e aposentadorias de todo mundo".
A mensagem é falsa e o vídeo é editado. No original, Bolsonaro não disse que vai cortar 25% dos salários e pensões. Na verdade, ao fazer a declaração, o presidente se referia a uma proposta apresentada pela Câmara dos Deputados em 2020.
Em outro caso recente, informações falsas apontavam que a policial ferida por Roberto Jefferson no último domingo (23) estava grávida e perdeu o bebê. A alegação enganosa, desmentida pela Polícia Federal, visava ampliar a repercussão do ataque a tiros do ex-deputado a policiais que cumpriam um mandado de prisão contra ele.
Desde o último dia 17, o TSE deu um prazo para que o deputado federal André Janones (Avante-MG), que tem liderado ações nas redes sociais para a campanha de Lula, se manifeste sobre a divulgação de informações contra Jair Bolsonaro que seriam falsas.
Entre as peças de desinformação divulgadas por Janones estão a associação de Bolsonaro ao satanismo e a alegação de que o senador Fernando Collor (PTB) assumiria uma pasta em um eventual segundo mandato do presidente para confiscar pensões. Apenas em publicações feitas pelo deputado, Bolsonaro é vinculado ao canibalismo e à maçonaria.
Ao longo desta campanha presidencial, Bolsonaro e seu partido pediram a retirada de publicações que afirmavam que o atual presidente é genocida e ligado ao canibalismo e que sua mulher, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, tem ligações com o tráfico de drogas.
Ataques ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva
O candidato Lula, segundo a Justiça brasileira, foi o que teve mais direitos de resposta concedidos ao longo desta campanha presidencial. Ao todo, o PT concentra 62 dos 86 pedidos de resposta registrados entre 8 de agosto e o último dia 9. Informações da Justiça Eleitoral indicam que 32 das ações petistas (52%) têm o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos ou aliados como autores.
Além disso, o partido de Lula conseguiu vitórias em metade dos pedidos feitos à Justiça Eleitoral. Entre as fake news divulgadas em campanha eleitoral ou Internet estão as de que Lula persegue cristãos, acabaria com o agronegócio caso eleito presidente e tem ligação com facções criminosas — uma das falsas evidências disto foi o boné com a sigla CPX.
As mentiras envolvendo o boné, cuja sigla significa Complexo do Alemão (uma comunidade na cidade do Rio de Janeiro), renderam uma ação civil pública contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-secretário especial da Cultura e atual deputado federal eleito Mário Frias e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A ação pede indenização de R$ 1,8 milhão por danos morais coletivos. O motivo é, segundo a parte acusante, o compartilhamento de notícias falsas sobre o significado de CPX.
Até mesmo empresas foram envolvidas em histórias criminosas para favorecer alguns candidatos. Circulou nas redes sociais um vídeo em que um homem mostra garrafas da cerveja Heineken com o número 22, de Jair Bolsonaro. A Heineken precisou esclarecer que não produziu garrafas com o número impresso e que não apoia qualquer envolvimento com candidatos.
Ao longo da campanha, Lula foi acusado de legalizar o aborto e as drogas e de distribuir um "kit gay" para crianças. Ele também é citado no caso Celso Daniel, embora não haja nenhuma evidência de sua participação no assassinato do então prefeito de Santo André. A mais danosa, no entanto, resgata uma mentira usada em 1989, na primeira campanha de Lula ao Planalto: a de que, se eleito, fecharia igrejas evangélicas. Nenhuma das acusações é real.