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TSE tem atuação firme contra fake news, mas não coíbe uso da máquina pública, dizem especialistas

© Folhapress / Suamy Beydoun O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes durante evento Arbitragem, Conquistas e Desafios, em 29 de abril de 2022
 O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes durante evento Arbitragem, Conquistas e Desafios, em 29 de abril de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2022
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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem reforçado sua atuação na remoção de conteúdos falaciosos produzidos pelas campanhas eleitorais dos candidatos à Presidência nas eleições de 2022, mas tem recebido críticas por uma certa ineficácia em coibir o uso da máquina pública para propaganda eleitoral.
A intervenção do TSE nas eleições de 2022 aumentou quando comparada com a atuação do tribunal em 2018. Essa postura mais firme, relacionada ao perfil "intervencionista" do presidente da corte, Alexandre de Moraes, tem gerado controvérsias e críticas de ambos os lados da corrida eleitoral.
Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil enxergam uma atuação correta e equilibrada do TSE diante de notícias falsas e propagandas eleitorais com desinformação, mas apontam que a mesma firmeza não está sendo vista no que diz respeito ao uso da máquina pública para fins eleitoreiros, principalmente pela campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Fake news e desinformação

Para Alberto Rollo, advogado especialista em direito eleitoral e membro da Comissão de Direito Eleitoral da seção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), isso tem a ver com o perfil de Moraes, que é diferente dos presidentes anteriores do tribunal, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin. "Moraes é mais duro nas intervenções, nas palavras", aponta.
Essa postura tem gerado críticas de alguns especialistas, que enxergam que o TSE deveria se ater mais firmemente ao "princípio da intervenção mínima" da Justiça Eleitoral. Rollo discorda dessa análise e acredita que não há nenhum exagero.

"Acho que tem sido uma atuação equilibrada. Mas, é lógico, se temos 100 pedidos de um lado e 10 do outro, é normal que haja mais remoção de um lado do que de outro. Isso depende do volume e da atuação de cada assessoria jurídica. A campanha está em um baixo nível dos dois lados", declarou.

Os dois candidatos já tiveram propagandas removidas pelo TSE e há críticas às restrições de ambos os lados. "Se há reclamações [sobre a remoção de conteúdos] dos dois lados é porque está sendo equilibrado", completa.
A equipe jurídica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já acionou o TSE mais de 60 vezes por disseminação de fake news pela chapa adversária, conseguiu 50 vitórias no tribunal, segundo dados da campanha do petista. Enquanto a de Bolsonaro, que acionou sete, venceu seis vezes, conforme informou a Folha de S.Paulo.
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"Não estou vendo nenhum tipo de exagero. Prefiro uma Justiça que responde às reclamações do que uma Justiça que fica deixando passar e, aí, passa a eleição [e o TSE não interveio]. Às vezes tem reclamação sobre isso", pontua Rollo.

"A sociedade tem que decidir. Ou a gente vai aceitar a intervenção [do TSE na campanha eleitoral] ou a intervenção tem que ser nenhuma. Ou a sociedade aceita que tem que ter intervenção ou não se faz nenhuma", acrescentou.
O advogado Renato Ribeiro, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e também integrante da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de São Paulo, tem a mesma visão. O especialista acredita que o TSE tem atuado quando acionado.

"O TSE não tem exagerado, muito pelo contrário. Uma eleição desta natureza tem grandes desafios, e a grande dificuldade da remoção dos conteúdos é uma dificuldade do próprio direito. [...] Nós trabalhamos de forma reativa, muito dificilmente de forma preventiva. Por quê? Porque as coisas acontecem e só então o Poder Judiciário é acionado para tomar medidas. [...] Ou seja, não existe censura prévia. Existe uma postagem na Internet, por exemplo, uma fake news, e o Poder Judiciário intervém. É sempre um enxugar de gelo, e não tem como ser diferente", avalia Ribeiro.

"A dinâmica da eleição produz, infelizmente, conteúdos falaciosos, muitas fake news, e o Judiciário, quando é instado e provocado, ele acaba atuando. Senão algumas coisas acabam passando", completou.
Questionado sobre declarações dadas por outros membros da Abradep à imprensa contra a intervenção do TSE nestas eleições, Ribeiro disse que isso é natural, tendo em vista que "a academia é muito plural", com uma composição diversa e posições até antagônicas.
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Abuso de poder

Apesar de apontar que a atuação do TSE tem sido correta para coibir a desinformação, Rollo acredita que o tribunal não tem conseguido frear práticas do governo Jair Bolsonaro que possam favorecê-lo eleitoralmente em sua busca pela reeleição. As campanhas de Lula e de outros candidatos que disputaram o primeiro turno da eleição presidencial já apresentaram ações — e venceram algumas — contra o atual presidente por abuso de poder político, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.

"Até agora o TSE não agiu para coibir a PEC das Bondades, a concessão de redução de impostos, empréstimos e renegociação [de dívidas] em banco oficial etc. Tudo em ano eleitoral, contra a lei. É verdade que a esta altura já é tarde, mas o TSE tem que agir em todas as frentes, não só no combate às fake news e à desinformação", critica.

O especialista pondera que o TSE só atua quando provocado judicialmente e que a oposição tem tido certo receio de acioná-lo "porque tem medo da cobrança de que está agindo contra os mais necessitados".
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Ribeiro, por sua vez, acredita que o TSE tem buscado coibir o uso da máquina pública pelo presidente mas não consegue grande efetividade porque o mandatário "insiste" em incorrer em infrações eleitorais já reconhecidas pela corte.

"O TSE tem agido em reação a essas atitudes, mas sempre de forma reativa, não tem como a Justiça Eleitoral fazer uso de censura contra atos e declarações do presidente da República. Não existe essa possibilidade. [...] O TSE tem acertado, mas o presidente, apesar de sucessivas derrotas, insiste em fazer campanha durante todos os atos de sua gestão", aponta.

O especialista lembrou que o TSE já determinou a proibição da utilização de imagens de Bolsonaro no velório da rainha Elizabeth II, na Organização das Nações Unidas (ONU) e nos atos do 7 de Setembro na campanha eleitoral. O tribunal reconheceu os crimes eleitorais de abuso de poder político, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.
A campanha de Bolsonaro chegou a acionar o TSE acusando Lula de abusos dos poderes político e econômico em razão de evento realizado com artistas em 26 de setembro. O ministro Benedito Gonçalves acatou a reclamação parcialmente e determinou uma restrição da exibição de imagens do evento por entender que elas podiam produzir "efeitos anti-isonômicos na disputa eleitoral". O ex-presidente também foi multado por propaganda antecipada em razão de um ato realizado em Piauí em agosto.
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