A ansiedade dos líderes latino-americanos transpareceu com o rápido reconhecimento e a celebração da vitória do petista contra o atual presidente, Jair Bolsonaro. Já na segunda-feira (31), Lula recebeu sua primeira visita internacional após ser eleito: a do presidente da Argentina, Alberto Fernández.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o historiador João Cláudio Pitillo, professor de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas), da mesma instituição, afirmou acreditar que "Lula vai agilizar a integração do Sul". "Isso é uma das primeiras coisas que o presidente eleito vai encaminhar", apontou.
O especialista afirma que o governo Bolsonaro deixou de lado os países da América do Sul durante seus quatro anos de mandato, quadro que Lula já apontou que pretende reverter. Em seu primeiro discurso como presidente eleito, o petista disse que "o Brasil está de volta" ao cenário global e deu ênfase às iniciativas regionais.
Pitillo acredita que o processo de integração sul-americana será dinamizado pelo presidente eleito, como foi nos seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010. No entanto desta vez há um componente novo, que favorece um avanço maior: agora a Colômbia tem um presidente de esquerda.
Gustavo Petro, que tomou posse como presidente da Colômbia em agosto, foi o primeiro chefe de Estado latino-americano a reconhecer o triunfo de Lula nas redes sociais, antes mesmo de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar que numericamente ele já estava eleito. Especialistas ouvidos anteriormente pela Sputnik Brasil já indicavam que a "sulamericanização" da política externa colombiana promovida por Petro poderia favorecer uma convergência regional para o desenvolvimento em conjunto, movimento que poderia ganhar tração em caso de vitória de Lula.
"O fato da novidade de termos um presidente progressista na Colômbia vai elevar essa discussão da integração. Olha, se nós conseguirmos fazer avançar as questões políticas e econômicas [da integração], a América do Sul pode se tornar, em conjunto, autossuficiente em uma série de coisas. Se a gente elevar essa discussão, se a gente consegue avançar dentro do setor produtivo a nível de integrar a indústria da América do Sul, nós podemos dar saltos de qualidade em pouco tempo", disse Pitillo em entrevista às jornalistas Melina Saad e Thaiana Oliveira, no Mundioka.
"O Sul Global é a saída para o desenvolvimento do Brasil e para os outros países da América do Sul que estão passando por um momento difícil, como a Argentina, com problemas de inflação, o Chile, a Colômbia. Todos esses países podem ter uma melhora econômica a partir desse movimento de integração e transição, que o Brasil tende a liderar no cenário internacional", destaca o especialista.
Pitillo sublinha que a América do Sul deve contar com o apoio de China e Rússia nesse processo.
"É óbvio que a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul, através do BRICS, vão ser parceiras disso. Hoje não há antagonismo entre o Mercosul e o BRICS. Não há antagonismo entre Brasil, Rússia, China e Índia. Nós podemos atuar como economia complementar", afirma.
"O Lula sabe que parte da solução do Brasil está na sua capacidade de se relacionar com os outros países para atrair investimentos e para conseguir compradores. O Lula precisa de mercados e de investimentos", diz ainda.