Os países africanos devem aderir ao BRICS o mais rápido possível para formar um grupo de interesse econômico comum, instou Ferhat Ait Ali, ex-ministro da Indústria da Argélia, em entrevista à Sputnik.
Lula da Silva venceu no domingo (30) as eleições presidenciais no Brasil e expressou sua vontade de contribuir e aprender em sua relação com a África. Ali parabenizou o líder do Partido dos Trabalhadores, mencionando as viagens ao continente africano nos seus dois primeiros mandatos (2003-2010), apontando que esperava sua vitória.
"Ele queria um grande Brasil. Ele ainda o faz. O povo brasileiro acredita em sua vontade e em sua visão [...] Ele queria criar uma dinâmica econômica brasileira, mas que não estivesse desligada de seu ambiente natural", disse o interlocutor da Sputnik.
"Viajando a praticamente todos os países da África, Lula da Silva não o fez apenas como um bom samaritano, mas simplesmente porque acredita que os países emergentes, como o Brasil, têm muito a dar para a África, pois em um certo ponto eles foram equivalentes em termos de desenvolvimento. Mas também, ele [o Brasil] tem muito a aprender da África", comentou Ali.
Para o ex-responsável argelino, é com "este tipo de potência emergente e também com o resto do BRICS [que também inclui a África do Sul, China, Índia e Rússia] que devemos criar um grupo de interesse econômico comum".
Segundo o interlocutor, "estamos diante de uma lógica que acredita na acumulação de capital a todo custo, por todos os meios possíveis e imagináveis", por isso o BRICS devia acolher o mais rápido possível Estados-membros africanos semelhantes em termos de emergência e solvência econômicas.
"A lógica capitalista que permite que 10% da humanidade consuma 80% da riqueza do planeta não tem mais fundamento", justificou ele.
Brasil tem uma palavra a dizer
Segundo Ferhat Ait Ali, o Brasil planeja estender suas atividades a um continente que compartilha várias características em comum com a América do Sul, por exemplo, "em termos de chuvas e em termos da natureza das terras agrícolas".
"Portanto, podemos dizer que, de Burkina Faso ao Congo, o Brasil tem um papel a desempenhar. Também no setor de mineração os brasileiros estão bem equipados e têm dois séculos de experiência na área, e podem transferir seu know-how aos africanos que, hoje, dão as concessões de mineração a grupos capitalistas que não dão um décimo ou mesmo um quinto a esses países, onde esses recursos têm origem", argumentou Ferhat Ait Ali.
"Seria melhor" no caso do BRICS, disse ele, mencionando também países como a China e a Rússia com experiência na área, que poderiam explorar os "recursos mineiros africanos em benefício de todas as partes, ou seja, os próprios africanos, que são os proprietários desses recursos".