Um trio de empresas chinesas de mineração foi ordenado por Ottawa a vender seus interesses em empresas do setor, consideradas críticas para o governo canadense, como parte do ataque à influência do gigante asiático sob o pretexto de preocupações com espionagem.
Sinomine Rare Metals Resources, de Hong Kong, deve se desfazer da Power Metals, com sede em Vancouver, Chengze Lithium International acabou ordenada a sair da Lithium Chile, com sede em Calgary, e Zangge Mining Investment, de Chengdu, foi obrigada a se desfazer da Ultra Lithium, com sede em Vancouver, disse o governo canadense em comunicado na quarta-feira (2).
"Essas empresas foram analisadas por meio do processo de revisão de segurança nacional em várias etapas, que envolve um escrutínio rigoroso pela comunidade de segurança e inteligência nacional do Canadá", disse o ministro da Indústria do Canadá, François-Philippe Champagne, em comunicado.
O ministro acrescentou ainda que "as decisões do governo são baseadas em fatos e evidências e no conselho de especialistas em minerais críticos, da comunidade de segurança e inteligência do Canadá e outros parceiros do governo".
A ordem do governo federal canadense ocorre depois que Ottawa já havia endurecido as regras sobre novos investimentos no setor de mineração do Canadá na semana passada. No dia 28 de outubro, foi anunciado que quaisquer transações envolvendo investimentos de quaisquer empresas estatais em empresas canadenses de minerais críticos deveriam ser aprovadas em "base excepcional". A regra se aplica a investimentos independentemente do tamanho, incluindo participações não controladoras pertencentes à indústria de recursos do Canadá, desde exploração e desenvolvimento até mineração e refino.
O Canadá possui grandes depósitos de minerais críticos, com cerca de 200 minas ativas. O país é um importante produtor global de cobre, níquel e cobalto e possui projetos de mineração para o lítio, grafite e vanádio.
Como a China investiu pesadamente em minas no exterior, inclusive no Canadá, para suas necessidades críticas de refino e processamento de minerais, Ottawa e seus aliados vêm tentando corroer o domínio de Pequim.
Tal como no caso da repressão da Huawei, liderada por Washington, quando a gigante chinesa de telecomunicações se viu na mira dos aliados da América, o Canadá e EUA identificaram dezenas de minerais e metais que consideram essenciais, enquanto normalmente proclamam potenciais ameaças à segurança nacional provenientes de Pequim.
Em junho, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, visitou Ottawa e ressaltou a necessidade de "apoio entre amigos", dizendo que o apoio se baseia na "ideia de que os países que defendem um conjunto comum de valores sobre o comércio internacional, conduta na economia global, devem negociar e obter os benefícios do comércio para que tenhamos múltiplas fontes de fornecimento e não dependamos excessivamente de fontes de mercadorias críticas de países onde temos preocupações geopolíticas".
'Armando' a economia mundial
A China é atualmente o ator global dominante no refino e processamento de 16 minerais essenciais para tecnologias de ponta, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA. Minerais e metais críticos, como lítio, cádmio, níquel e cobalto, são fundamentais para o desenvolvimento de tecnologias avançadas para veículos elétricos, painéis solares, geração de energia eólica, computadores, cabos de fibra ótica, semicondutores, baterias, além de possuírem diversas aplicações na defesa, no setor aeroespacial e na área médica.
Avaliando os recentes movimentos dos EUA, como as últimas restrições pelo governo Joe Biden de exportação de chips semicondutores de alta tecnologia para a China, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Zhao Lijian, disse na quarta-feira que "os EUA coagiram seus aliados a se unirem na supressão do desenvolvimento econômico da China. Isso só pode causar enormes danos à estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais, violar seriamente as regras de livre comércio e prejudicar gravemente o desenvolvimento econômico dos países e o bem-estar dos países".
Ainda de acordo com o porta-voz, Pequim deve trabalhar com a comunidade internacional para se opor à coerção econômica dos EUA e às práticas de intimidação para manter o sistema econômico mundial e suas regras fundamentais estáveis.
Pequim também denunciou as últimas declarações feitas pela Austrália, quando a ministra Madeleine King sinalizou seu país como uma potencial alternativa de recursos à China.
Zhao Lijian alertou Camberra para não usar seus grandes depósitos de recursos como uma "ferramenta ou arma política".
No início do ano, o governo canadense baniu os produtos e serviços da Huawei e da ZTE e obrigou as empresas que estão usando esses itens a removê-los, com o ministro da Inovação, Ciência e Indústria, François-Philippe Champagne, anunciando que a decisão foi tomada após uma revisão completa por agências de segurança independentes e em consulta com os aliados mais próximos do Canadá. Antes disso, quatro membros da chamada aliança de compartilhamento de inteligência Five Eyes — EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia — já haviam banido ou restringido a Huawei de suas redes 5G, citando supostas ameaças à sua segurança nacional.
Em resposta, o embaixador da China no Canadá, Cong Peiwu, criticou os avisos "inventados" pelos EUA contra a Huawei, afirmando que "nenhum país ou organização que tenha usado o produto da Huawei sugeriu ou expressou preocupações de segurança. Isso foi inventado pelos Estados Unidos, e o principal objetivo disso é reprimir a Huawei".