Panorama internacional

Mercosul se fortalece com retorno de Lula e possível entrada da Bolívia, apontam especialistas

O Mercosul deve passar por um processo de fortalecimento com o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil, apontam especialistas ouvidos pela Sputnik. A volta do petista fortalece a possibilidade de ingresso da Bolívia, algo que pode dar um sopro de renovação em um bloco que passou por muitas turbulências nos últimos anos.
Sputnik
A conjuntura regional que impacta no Mercosul foi tema do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, nesta terça-feira (15). Para especialistas ouvidos pelas jornalistas Melina Saad e Thaiana Oliveira, o retorno de Lula à presidência do Brasil pode fortalecer o bloco, recolocando-o como prioridade na política externa brasileira. Com o apoio de Lula, abrem-se as portas para a oficialização da entrada da Bolívia, o que pode render bons frutos para o bloco.
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Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aposta que o Mercosul deve intensificar suas relações no próximo período e cita como exemplo a visita do presidente da Argentina, Alberto Fernández, ao Brasil no dia seguinte à vitória eleitoral de Lula sobre o atual presidente, Jair Bolsonaro.

"A partir do momento em que o presidente argentino esteve de prontidão após a eleição do Lula, no dia seguinte — menos de 24 horas do resultado o presidente argentino já estava no Brasil —, eu consigo entender que o Mercosul deve intensificar as suas relações", aponta Bressan.

"Não sabemos exatamente as relações econômicas e comerciais, que dependem muito das politicas macroeconômicas, de câmbio de interesse das elites econômicas, mas a gente já pode vislumbrar que teremos um Mercosul muito mais intenso, um Brasil muito mais participativo nas relações do Mercosul e um Mercosul que consiga ampliar a sua discussão, sua agenda para temas além da economia. Então vejo até certo protagonismo, liderança brasileira no Mercosul e na América Latina", acrescentou.
Essa opinião de reaquecimento do bloco é compartilhada pelo cientista político André Coelho, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), que enxerga também um horizonte favorável para a relação do Brasil com os demais países do BRICS.

"Com os governos Bolsonaro e [de Michel] Temer, especialmente com o governo Bolsonaro, o que vimos foi o enfraquecimento tanto do BRICS como do Mercosul. O Brasil teve, especialmente no governo Bolsonaro, um alinhamento automático ideológico com os EUA, principalmente no governo [Donald] Trump. Isso não deu muito certo, porque o Trump logo saiu, e o Brasil ficou meio perdido. [O Brasil] chegou, inclusive, a ser chamado de pária internacional pelo seu próprio chanceler à época, Ernesto Araújo. Então o Brasil não fortaleceu o BRICS e muito menos o Mercosul; enfraqueceu ambos. Então o governo Lula eu imagino que vá buscar, sim, o fortalecimento de ambos", avalia Coelho.

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Um fator que poderia influenciar positivamente o fortalecimento do Mercosul é a entrada da Bolívia no bloco sul-americano.

"O Mercosul se fragilizou bastante nos governos de centro-direita da segunda metade da década passada. Ficou muito fragilizado e quase acabou, teve risco real de acabar. A gente ouvia nas palavras do [ex-presidente] Mauricio Macri, na Argentina, e de Jair Bolsonaro, aqui no Brasil, que o Mercosul não era importante para o Brasil. Então essa retomada do Mercosul passa também pela valorização do próprio bloco e a valorização do próprio bloco passa pela entrada de um novo membro", avalia o professor da Unirio.

O processo de adesão do país andino se arrasta desde 2006, e agora a entrada depende apenas da chancela do Congresso brasileiro, após já ter sido aprovada pelos outros três países-membros — Argentina, Uruguai e Paraguai. Coelho destaca que o retorno de Lula fortalece a demanda boliviana. Durante encontro com o presidente boliviano, Luis Arce, em setembro, Lula se comprometeu a apoiar o ingresso do país no Mercosul.
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"Acho que, em termos estratégicos, geopolíticos, o Mercosul ganha muito [com a entrada da Bolívia], porque ele inicialmente é construído no Cone Sul. Falta justamente essa participação dos países andinos, especialmente do norte da América do Sul", avalia Coelho. A Venezuela, que entrou no bloco em 2012, foi suspensa em 2016, quando a maioria dos países-membros passou a ser governada por líderes de direita e centro-direita.
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