A Indonésia deve se tornar uma das maiores clientes de armas da França na região do Indo-Pacífico, já que o presidente francês Emmanuel Macron tem promovido a cooperação reforçada com Jacarta de diversas formas, desde aviões de guerra a submarinos, por ocasião da Cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), em Bangkok, que se inicia nesta quinta-feira (17).
O presidente francês estava se referindo a uma série de acordos de compra de armas firmados entre Paris e Jacarta no início do ano. Em fevereiro, os dois países fecharam um acordo no valor de US$ 8,1 bilhões (aproximadamente R$ 44,3 bilhões) para Jacarta adquirir 42 caças Rafale, produzidos pela Dassault Aviation. A Indonésia também deveria encomendar dois submarinos da classe Scorpnene. As embarcações de ataque diesel-elétricas são desenvolvidas em conjunto pelo Grupo Naval Francês e pela empresa espanhola Navantia. Outros acordos entre os países diziam respeito a aquisição de satélites e produção de munição.
A questão dos submarinos é particularmente sensível para a França após a perda humilhante de seu acordo multibilionário em setembro do ano passado, após o anúncio de uma parceria de defesa trilateral chamada AUKUS (Austrália, EUA e Reino Unido). Na época, a primeira iniciativa anunciada sob o pacto AUKUS foi a criação de tecnologia de submarinos movidos a energia nuclear para a Marinha Real Australiana, o que levou o governo australiano a cancelar um acordo de US$ 66 bilhões (cerca de R$ 360,4 bilhões) com a empresa francesa Naval Group para a construção de submarinos diesel-elétricos.
Na época, Paris classificou a medida como uma "punhalada pelas costas". A Austrália acabou concordando com um generoso acordo de compensação no valor de € 555 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões) com a empresa francesa responsável pela construção dos submarinos, Naval Group, para encerrar o contrato e traçar uma linha sob a disputa.
O presidente indonésio Joko Widodo elogiou os acordos com a França, dizendo esperar "que as parcerias de defesa não se concentrem apenas na compra de munições, mas também tendo em mente o desenvolvimento e a produção conjunta, a transferência tecnológica e o investimento nas indústrias de defesa".
Ainda nesta quinta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron indicou que o acordo de construção de submarinos abandonado pela Austrália não se tratava de um projeto de confronto com a China.
As tensões no mar do Sul da China aumentaram após o anúncio do novo pacto de segurança. Embora não mencione a China pelo nome, a aliança foi vista como parte de uma estratégia para compensar a crescente influência chinesa na região. Pequim na época denunciou o pacto de segurança de três vias como "extremamente irresponsável". A aliança corre o risco de "prejudicar gravemente a paz regional [...] e intensificar a corrida armamentista", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.
Emmanuel Macron também afirmou que a cooperação com Camberra em submarinos "continua na mesa", após uma reunião um dia antes com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, à margem da cúpula do G20 em Bali, na Indonésia. Macron acrescentou que poderia garantir a "liberdade e soberania" de Camberra.
"Há uma escolha fundamental, que é saber se eles produzem submarinos em seu próprio país ou confiam em outro — se vão para a energia nuclear ou não", afirmou o presidente.