Vários funcionários importantes, organizações antiterroristas e ministros de 72 países realizaram discussões abrangentes na terceira edição da conferência "No Money for Terror" (sem dinheiro para o terror) em Nova Deli, na semana passada.
A anfitriã Índia pediu o estabelecimento de um secretariado permanente para garantir que houvesse um foco sustentado da comunidade internacional no combate ao financiamento do terrorismo.
A Sputnik conversou com Kabir Taneja, membro da Observer Research Foundation de Nova Deli e autor de "The ISIS Peril" (O perigo do Daesh, organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) para ouvir sua opinião sobre o forte tom da Índia para uma abordagem "indiferenciada e não diluída" para combater o terrorismo e como a Índia e a Rússia poderiam cooperar nesse sentido.
Ao longo dos últimos meses, a Índia tem sublinhado repetidamente a necessidade de se estabelecer uma instituição global com um forte mandato para detectar e impedir o financiamento do terrorismo. De acordo com Taneja, não é uma má ideia criar um instituto específico para o combate. No entanto, para que tal passo seja tomado, vai ser preciso definir "o que ou quem é definido como terrorista ou grupo terrorista", o que implica em uma dificuldade política.
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17 de novembro 2022, 13:19
Modi chegou a instar os líderes globais a impor custos aos países que apoiassem o terror, o que para o especialista retoma a questão de origem sobre "o que significa impor custos".
"A ONU já possui um mecanismo de sanções, além disso, qualquer outra opção será de natureza inerentemente intervencionista e militar. E isso, por enquanto, iria contra a própria estrutura da política externa indiana. Serão necessárias mudanças fundamentais na forma como a política externa indiana funciona antes que tal ideia possa ser levada adiante", afirmou Taneja.
Os EUA, por exemplo, continuam a dar ajuda e armas ao Paquistão esperando que ele se torne um parceiro na luta contra o terror. No entanto, Nova Deli acredita que o establishment paquistanês ainda tem ligações com grupos terroristas, o que, para o pesquisador, não significa um desafio para a política regional.
"A ajuda dos EUA ao Paquistão só aumentará o contraterrorismo nos próximos tempos, acredito. A nova liderança do Paquistão destacou repetidamente que o terrorismo é seu maior desafio. No entanto, ao contrário, também apoia elementos que apenas exacerbam a ameaça terrorista não apenas no Paquistão, mas globalmente", afirmou.
O analista destaca que a diplomacia multilateral acionável para combater o terrorismo de maneira realista, como no caso da ONU, é mais difícil do que parece.
11 de janeiro 2022, 20:59
Kabir Taneja acredita, no entanto, que iniciativas de cooperação mais localizadas podem resultar diante deste panorama, como no caso de Índia e Rússia.
"Índia e Rússia já cooperam contra o terrorismo como parte da Organização de Cooperação de Xangai [SCO, na sigla em inglês]. No entanto, tanto Nova Deli quanto Moscou compartilham uma preocupação crescente com o que está acontecendo em Cabul."
O Afeganistão é um problema inerentemente asiático e regional, porém os interesses individuais dos países no Afeganistão continuam a prevalecer sobre qualquer abordagem institucional, o que também continua sendo uma tendência preocupante, disse Taneja.
Quando perguntado se o uso indevido da tecnologia na disseminação do terror e da radicalização através das mídias sociais e da darknet, apontava para a necessidade de uma regulamentação das mídias sociais, Kabir Taneja disse não ter certeza já que o conteúdo do terror se proliferou muito mais no mainstream.
"No entanto, o acesso sem precedentes do terror e do crime às tecnologias se tornará cada vez mais o principal desafio nos esforços de combate ao terrorismo. Acho que mais do que políticas globais, são os formatos políticos e diplomáticos regionais que são mais eficazes para lidar com essas questões de maneira temporal", concluiu o especialista.