Operação militar especial russa

Especialista: UE se mostra refém dos EUA ao tachar a Rússia como 'Estado patrocinador do terrorismo'

Em tom confessional e falando em nome de Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia (UE), a Comissária para Assuntos Internos do bloco, Ylva Johansson, dirigiu-se ao Parlamento Europeu em 19 de outubro para tratar de uma medida aprovada nesta quarta-feira (23) pela Casa legislativa europeia.
Sputnik
A discussão no mês passado era focada no possível reconhecimento da Rússia como "Estado patrocinador do terrorismo", medida que foi aprovada hoje (23) por 494 votos (enquanto 58 votaram contra e 44 se abstiveram).

"Embora a União Europeia não tenha um quadro legal para designar um país terceiro como 'Estado patrocinador do terrorismo', tomamos nota de tais decisões a nível nacional ou resoluções de assembleias parlamentares, como a do Conselho da Europa poucos dias atrás", disse Johansson ao Parlamento.

Além da admissão de que se trata de uma decisão sem precedentes, começaria ali a gestação de uma medida importada dos EUA e duramente criticada por Moscou, para se criar um fundamento legal cujo intuito é nada mais do que cooptar os ativos russos congelados por países-membros da UE.
Carolina Bernardes Enham, professora e coordenadora do curso de pós-graduação em projetos internacionais do Instituto de Educação Continuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), vice-presidente regional da Câmara Brasil–Rússia de Comércio, Indústria e Turismo no estado e cônsul honorária da Rússia em Belo Horizonte, aponta uma característica que vai além do alinhamento ideológico entre EUA e UE.

"Vejo realmente como algo que normalmente é feito pelos EUA e agora [está] sendo também feito pela UE não somente como forma de reforçar a unicidade do discurso, mas também [...] [de] mostrar como a UE está sendo amplamente influenciada pelos EUA e refém dos seus interesses", observou.

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Ela também vê a pecha como uma parte do processo de "reafirmação da narrativa ocidental" que justifica todas as sanções e todos os atos do Ocidente contra a Rússia a partir do momento em que há um cenário de conflito "que avança e que coloca, inclusive, algumas verdades à tona".

"Como, recentemente, os crimes de guerra cometidos pelo lado ucraniano contra militares russos. Isso aconteceu há poucos dias, houve uma execução à queima-roupa de prisioneiros de guerra russos perpetrada pelos militares ucranianos, que cometeram crimes de guerra deliberadamente. Isso foi amplamente noticiado, a Rússia notificou a ONU [Organização das Nações Unidas] e pediu intervenção nesse sentido. Ao que parece, toda vez que a Rússia age de acordo com normativas da ONU, que clama à ONU que assuma sua obrigação, e toda vez que aparecem atos que depõem contra a Ucrânia, logo a gente vê outras novas narrativas do Ocidente tentando mais uma vez incriminar a Rússia de algum modo."

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A especialista aponta também a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na classificação feita pela Europa, uma vez que, ante o conflito ucraniano, ficou evidente que a Rússia está respondendo a ações que são coordenadas pela aliança militar.

"Isso porque a Rússia não luta contra os ucranianos ou muito menos contra qualquer aparato ucraniano, mas sim contra aparatos e treinamentos da OTAN. A situação é muito nítida. Trata-se de um cenário de conflito em território ucraniano, mas é um embate entre Rússia e OTAN", indicou.

Enham lembra ainda que tentar colocar a Rússia nesse papel decorrente de um conflito, ou seja, como um "Estado patrocinador do terrorismo", é tentar alimentar a narrativa de busca de novos reforços de corroboração de ações antirrussas, que "tragicamente acabam por fomentar a russofobia", outro problema grave.
A sinalização contra a Rússia pelo Parlamento Europeu também não se justifica quando, em todos os cenários de conflitos vigentes e em todos os demais conflitos também perpetrados pelo Ocidente, esse tipo de rótulo não foi dado, e ações de combate e de conflito não foram classificadas como terrorismo, argumenta a cônsul. Serve inclusive como cortina de fumaça, na tentativa de acobertar as ações criminosas de forças ucranianas.

"Ações classificadas como terroristas carecem de muita análise, de muitos debates, de muitas reflexões, [sobre] o que de fato pode ser considerado terrorismo. As distinções entre essas ações são, muitas vezes, tênues, [...] elas requerem muita pesquisa, [...] um debate profundo, para que seja possível fazer esse tipo de análise. Ainda mais quando se tem um conflito ocorrendo e [quando] [...] a Rússia clama, inclusive, [pelo reconhecimento de] [...] crimes de guerra cometidos por parte da Ucrânia. Mas, logo na sequência, o Parlamento Europeu fala que o que a Rússia faz é terrorismo. É muito questionável", ponderou.

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A professora mostra que se recai na questão de que "não pode haver dois pesos e duas medidas" em relação a esse ponto. As grandes instituições, sobretudo a ONU, precisam tratar isso com isonomia, prossegue.

"Não esperamos [essa isonomia] do Parlamento Europeu, obviamente. As ações do Parlamento Europeu não surpreendem a Rússia e servem também para justificar a adoção de mais sanções e tentar fazer com que a população passe a deixar de analisar a retirada do apoio à Ucrânia, como tem acontecido. Porque há manifestações populares na Europa reivindicando a interrupção ou mesmo a saída da OTAN [do conflito na Ucrânia]. Há uma preocupação com a crise energética, e o inverno está chegando. Aumenta-se a pressão popular, e os líderes europeus se veem na situação de aumentar a narrativa contra a Rússia a fim de justificar suas posições. É um desenrolar do cenário com a Europa tentando se firmar em suas decisões", criticou.

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