Arqueólogos descobriram um grande conjunto de objetos rituais astecas de 500 anos debaixo do solo da Cidade do México, que explicaria as cerimônias religiosas pré-colombianas, escreveu na quinta-feira (24) a agência britânica Reuters.
Os objetos foram encontrados em caixas de pedra junto de um templo que teria a altura de um prédio de 15 andares e que foi destruído nos anos após a conquista espanhola do México em 1521. Os pesquisadores encontraram oferendas do mar, incluindo mais de 165 estrelas-do-mar que já foram vermelhas e mais de 180 ramos completos de coral selados em caixas de pedra no centro exato do que era um palco cerimonial circular.
Antes de o trabalho ser interrompido pela pandemia da COVID-19, foi detectada em uma das caixas uma onça-pintada sacrificada virada para o oeste, vestida como um guerreiro associado ao patrono asteca Huitzilopochtli, o deus da guerra e do sol. Já em outubro foi descoberta nas garras do felino uma águia sacrificada presa, juntamente com minilanças de madeira e um escudo de junco encontrado ao lado do animal, que tinha sinos de cobre amarrados em torno de seus tornozelos.
Um tesouro de ofertas rituais astecas incluindo uma caixa de estrelas-do-mar, uma onça-pintada vestida como um guerreiro e águias de sacrifício são descobertas na Cidade do México, e podem levar ao túmulo real do imperador há muito perdido
A caixa, datada do reinado do maior imperador asteca Ahuitzotl, que governou de 1486 a 1502, também revela uma misteriosa saliência no meio, sob o esqueleto da onça-pintada, indicando que há algo sólido embaixo. Ainda não se sabe o que é, mas os arqueólogos acreditam que se trata de algo "enormemente importante". Eles esperam ter de escavar pelo menos mais um ano para resolver a questão.
Foram ainda encontrados em um fosso crânios de 12 crianças de um a seis anos sacrificadas, datadas de décadas antes dos achados encontrados, mas também ligadas a Huitzilopochtli.
Um extenso esconderijo de ofertas rituais astecas encontradas sob o centro da Cidade do México, junto dos degraus do que teria sido o santuário mais sagrado do império, oferece uma nova visão dos ritos religiosos pré-hispânicos e de propaganda política
Segundo os arqueólogos, os sacerdotes astecas colocaram cuidadosamente as oferendas no lugar para uma cerimônia que envolvia o bater de tambores e que contava com a presença de milhares de espectadores.
"Pura propaganda imperial", comentou Leonardo López Luján, arqueólogo principal do Proyecto Templo Mayor do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México, que supervisiona a escavação, sobre o provável espetáculo.
Alguns cientistas acreditam que as oferendas em torno da onça-pintada podem representar o submundo aquático, onde os astecas acreditavam que o sol se afundava a cada noite, ou possivelmente parte da jornada de um rei após a morte, enquanto Joyce Marcus, arqueóloga especializada no México antigo da Universidade de Michigan, EUA, nota uma "visão de mundo, economia ritual, e as ligações óbvias entre expansão imperial, guerra, proeza militar e o papel do governante".
Diana Moreiras, acadêmica asteca da Universidade de British Columbia, Canadá, diz que as escavações dão uma visão mais abrangente sobre a sociedade asteca, que vai além dos relatos usados pelos conquistadores espanhóis para justificar a conquista e que permite ver o que a própria cultura pré-hispânica fazia.