Após as relações entre Paris e Ouagadougou atingirem o seu ponto mais baixo em décadas, com a França sendo instada a deixar o país, como ocorreu no Mali, Burkina Faso passou a reclamar da falta de empenho do país europeu no combate ao terrorismo islâmico.
O primeiro-ministro de Burkina Faso, Apollinaire Kiélem de Tembela, pediu à França "armas e munições" para auxiliar o Exército burquinense na luta contra os jihadistas, escreve o jornal Le Figaro.
Em um encontro com Luc Hallade, embaixador francês em Ouagadougou, o primeiro-ministro "sublinhou que os esforços dos parceiros devem centrar-se nas aspirações profundas do povo de Burkina Faso, um povo empenhado em defender-se pela liberdade e contra a barbárie e o terrorismo".
Burkina Faso lançou recentemente uma operação para recrutamento de 50 mil pessoas para o que está sendo chamado de Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP).
Segundo Apollinaire Kiélem de Tembela, "a França poderia ajudar esta resistência popular fornecendo armas e munições e também tendo em conta o apoio financeiro dos bravos combatentes".
O primeiro-ministro do país africano também afirmou durante a reunião que Burkina Faso sofre um cerco "há seis anos, e ninguém se comove". Ele disse ao embaixador europeu que a França, por outro lado, "tem mostrado uma solicitude diferente quando se trata de ajudar a Ucrânia no recente conflito com a Rússia".
Recentemente, a Nigéria confirmou que armas destinadas à Ucrânia estão sendo desviadas para terroristas na África. O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, disse na terça-feira (29) que parte das armas do conflito entre a Ucrânia e a Rússia estão sendo desviadas para a região da bacia do lago Chade.
Golpe militar: líder de Burkina Faso é deposto e Constituição é suspensa
Há semanas, Burkina Faso convive com manifestações contra a presença da França no país, em meio à crescente violência de grupos terroristas contra a embaixada francesa em Ouagadougou e contra a base militar de Kamboisin, nos arredores da capital, onde está estacionado um contingente de forças especiais.
A França há muito luta contra grupos islâmicos na região sob a égide da Operação Barkhane e, mais recentemente, da Força-Tarefa Takuba. Os esforços, no entanto, resultaram em mais insatisfação popular, diante da guerra que se arrasta há mais de oito anos, com poucos sinais de progresso.
Na noite de 30 de setembro, a mídia local informou que um grupo militar liderado pelo capitão Ibrahim Traoré havia anunciado a deposição do tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, chefe do governo interino do país, a suspensão da Constituição do país, a dissolução do governo e o fechamento de fronteiras.
Os militares, que reivindicaram sua fidelidade ao Movimento Patriótico para a Salvaguarda e a Restauração (MPSR), acusaram Damiba de se desviar dos ideais do movimento.
Ibrahim Traoré informou que os oficiais que lideram o golpe decidiram tirar Damiba do poder porque ele não conseguiu lidar com um levante armado de militantes islâmicos no país. Isso marca a segunda tomada de poder pelos militares em Burkina Faso em oito meses.