A pressão dos EUA sobre a UE é uma oportunidade para as relações China-UE, já que atualmente os líderes europeus estão se envolvendo com os EUA e a China, disseram especialistas ao jornal Global Times (GT) com vistas à visita do presidente francês Emmanuel Macron à China, agendada possivelmente para janeiro de 2023.
Além de Macron, que chamou a medida de "superagressiva" afirmando que ela arrisca "fragmentar o Ocidente", mais políticos da UE estão se manifestando contra a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) dos EUA — que oferece enormes subsídios para produtos fabricados em solo norte-americano como veículos elétricos e energia limpa — já que ela pode desviar investimentos da UE para os EUA.
No último domingo (4), foi a vez da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen tecer críticas, afirmando que a UE deve tomar medidas de "reequilíbrio" para suavizar as "distorções" da concorrência causadas pelos subsídios de US$ 369 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão) da lei.
De acordo com o pesquisador dos Institutos de Relações Internacionais Contemporâneas da China Sun Keqin, a lei dos EUA exibe protecionismo e nacionalismo econômico.
Para o especialista, muitos países europeus têm se preocupado com o esvaziamento de suas indústrias em um momento em que os preços da energia estão subindo na Europa e o custo dos bens industriais está corroendo a competitividade, "mas a Europa não tem muitas ferramentas para lidar com a situação", pontuou Sun.
"Mas não importa como os dois lados lidam com o conflito e como o jogo se desenrola, o relacionamento transatlântico está destinado a sofrer danos", observou Sun.
O pesquisador argumenta que alguns líderes e elites da UE ainda têm ilusões ou desejos sobre os EUA, acreditando que Washington é seu aliado, apesar dos atritos comerciais. Mas, segundo observadores chineses ouvidos pelo GT, os laços EUA-UE estão se tornando cada vez mais competitivos em termos econômicos, razão pela qual os EUA estão aproveitando o conflito ucraniano e alimentando uma crise energética sequencial para diminuir a economia e o ambiente de negócios da UE.
A atual crise comercial entre UE e EUA levou ao chefe do Comitê de Comércio do Parlamento Europeu, Bernd Lange, declarar, no domingo, que o bloco europeu deveria apresentar uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a lei.
A UE está claramente dividida em um grupo que prioriza seus laços com os EUA independentemente dos custos e um grupo que busca uma formulação de políticas mais independente.
Especialistas acreditam que a insatisfação da UE com os EUA pode abrir uma janela para a China e a UE melhorarem os laços bilaterais, bem como fornecer uma solução para a situação na Ucrânia.
Na quinta-feira (1º), o presidente chinês Xi Jinping disse que quanto mais instável se tornar a situação internacional e quanto mais desafios o mundo enfrentar, maior será a importância global assumida pelas relações China-UE.
O diretor do Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade Renmin da China, Wang Yiwei, disse que Pequim está sempre disposta a aprofundar seus laços com a Europa. Se Macron visitar a China, ele pode querer "ter uma boa conversa com a China", especialmente depois de sua "decepção com os EUA".