Na sexta-feira passada (6) aconteceu a cerimônia de passagem de comando na Marinha. Durante a posse, o novo comandante da instituição, almirante Marcos Sampaio Olsen, dedicou uma mensagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela indicação ao cargo.
Em seu discurso, registrado também como ordem do dia, a fala agradecia o petista pelo "introdutório de orientações e estímulo" e destacava a necessidade de investimentos nos quadros da corporação.
Até aí tudo bem. No entanto, segundo a coluna de Lauro Jardim em O Globo, o discurso do almirante repercutiu muito mal nos grupos de WhatsApp da Marinha e foi rejeitado com uma chuva de críticas feitas por bolsonaristas, uma vez que a corporação conta com um grande número de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, os quais tinham como referência o almirante Almir Garnier Santos, ex-chefe da força totalmente leal ao ex-presidente.
Maior prova dessa "lealdade" foi o fato de que, no dia da troca de comando, Ganier Santos não foi à cerimônia e deixou claro que sua escolha era baseada na rejeição ao presidente eleito. Foi a primeira vez, desde a redemocratização do país, que um ex-comandante da Marinha não participou da cerimônia de passagem de comando.
Ainda de acordo com a mídia, os ataques ao novo comandante foram tantos que, no domingo (8), um desses grupos virtuais perdeu a participação do almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira – comandante da Marinha entre 2015 e 2019 nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer.
Ao sair dos grupos, Leal Ferreira deixou a seguinte mensagem:
"Aos companheiros da Esperança: No momento em que vejo ataques pessoais e muito fortes ao AE Olsen, nosso CM, oficial de altíssima capacidade, ilibada moral e grande coragem, não me sinto mais em condições de permanecer nesse grupo. O ódio político que não leva a nada e as fake news que destroem reputações e espalham boatos perigosos só conseguem afastar amizades e quebrar laços familiares. Para mim os limites foram ultrapassados. Permaneço com o meu zap e meu e-mail à disposição para mensagens particulares. Quando a situação acalmar, eu volto."
Nas invasões ocorridas nos prédios dos três Poderes em Brasília no domingo (8), a partir de registros de fotos e vídeos, é notória a apatia de policias e militares em barrar os manifestantes, alguns deles até tiraram fotos dentro do Congresso com quem protestava ou permitiram sua passagem de forma pacífica.
O novo governo fez propaganda de uma desbolsonarização em cargos-chave, mas ministros e aliados de Lula admitem que o terreno "continuará minado" por algum tempo, de acordo com a Folha de São Paulo.
Eles dizem, segundo a mídia, que agentes policiais e militares das forças ligados a Bolsonaro permanecem leais ao ex-presidente e que "muita gente vai trabalhar contra [Lula]" até que seja feita uma desbolsonarização não só de comandantes, mas de efetivos com cargos mais baixos.