Com a visita do chanceler, o governo japonês dá início a uma campanha diplomática para ampliar a cooperação com os emigrantes japoneses e seus descendentes residentes na América Latina.
Estima-se que existem 2,3 milhões de descendentes japoneses na região, mas após seis gerações, muitos membros da diáspora japonesa, especialmente os jovens, sabem pouco sobre sua pátria histórica.
A Sputnik Brasil conversou com Mario Kimio Matsumoto, neto de japoneses que vieram ao Brasil em missões de imigração, que falou sobre as dificuldades de integração à sociedade brasileira, intercâmbio cultural e as diferenças no comportamento dos dois povos.
Ele apontou que, à medida que as gerações foram passando, os mais jovens perderam o contato com a cultura japonesa e explicou que diversas razões históricas, como o apoio japonês ao Eixo durante a Segunda Guerra Mundial, foram fundamentais para essa perda de identidade.
Mario conta que só depois de se tornar adulto e independente passou de fato a se perguntar sobre suas origens japonesas. Apesar de se ver integrado à comunidade brasileira, ele admite que nunca se sentiu 100% brasileiro.
"O japonês tem uma coisa muito legal, que é este compromisso, esta seriedade com o compromisso. Compromisso de trabalho, compromisso religioso, compromisso com horário. Este conceito de cidadania, ou seja, você não está sozinho, você é grupo, você trabalha para uma coletividade, para uma comunidade. Ajudar na limpeza, ser pontual, porque se você é pontual você não prejudica as outras pessoas", disse.
Mario também contou sua visão sobre o intercâmbio cultural entre Brasil e Japão. Embora seus pais tenham tentado criá-lo com hábitos mais brasileiros, ele lembra que algumas comunidades japonesas no país mantinham tradições japonesas, principalmente em celebrações e datas importantes.
Nesse sentido, ao se criar mais oportunidades para estudar a história da emigração oriental e a cultura japonesa, é possível o estabelecimento de relações amistosas entre o Japão e os países latino-americanos.
Reunião no Itamaraty
No último dia 9, o chanceler Mauro Vieira e o ministro das Relações Exteriores do Japão realizaram, em Brasília, a terceira edição do Diálogo Brasil–Japão entre Chanceleres, no âmbito da parceria estratégica global estabelecida em 2014.
Após a reunião, foi assinado um instrumento bilateral visando estabelecer uma rede de monitoramento em tempo real para a COVID-19, uma resposta às futuras ameaças de infecção e um projeto de colaboração entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão.
"O objetivo de sua visita aos países latino-americanos é realmente trocar pontos de vista sobre vários desafios internacionais, bem como as relações bilaterais", disse Yukiko Okano, vice-secretária de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do Japão.
Segundo o portal Infobae, com as visitas, o governo japonês coloca a lupa nos recursos minerais e alimentícios da região, dando importância a esses territórios como oferta de recursos.