"A tentativa de construção de um bloco multipolar latino-americano ao lado de Pequim e Moscou, no contexto atual, traria uma complicação a mais, porque já é sabida a influência na América Latina da China e da Rússia, e, de forma mais consolidada, institucional, isso traria uma preocupação maior para os Estados Unidos", avalia Valdez em entrevista à Sputnik Brasil.
Articulação local deve gerar reação de Washington
"Nesse sentido, a integração sul-americana sob liderança brasileira e uma crescente articulação com Rússia e China certamente serão objeto da reação norte-americana nos mais variados planos", afirma o pesquisador.
"Quando você tenta promover, por exemplo, um bloco, uma visão multilateral, com uma visão de ampliar a multipolaridade do sistema internacional aqui na América Latina trazendo esses dois proeminentes já consolidados adversários dos EUA, China e Rússia, você acaba indo de encontro ao que vem propondo os EUA, que é isolar a Rússia", aponta Valdez, para quem uma primeira reação norte-americana seria uma "desmobilização individualizada" dos países da região para tentar evitar essa aproximação.
Brasil pode ser o 'elo' entre mundo desenvolvido e em desenvolvimento
"Conforme Lula tem indicado, o Brasil tem que, por um lado, se afirmar como um polo no mundo multipolar, em parceria com os demais membros do BRICS, e, por outro lado, precisa de fato exercer uma barganha com os países centrais, sobretudo os da União Europeia e os EUA. A qualidade da inserção brasileira diz respeito ao grau de autonomia, ao grau de barganha e à leitura correta das tendências internacionais de transição de poder", avalia Pautasso.
"É bom lembrar que foi o país que impulsionou a própria constituição do BRICS. O recuo e a desarticulação da sua política externa sob [o governo do ex-presidente brasileiro Jair] Bolsonaro obviamente foi um momento passageiro. Portanto o Brasil deve reconstituir a sua atuação internacional", conclui.
"Acredito que o Brasil neste terceiro mandato do Lula pode construir uma agenda de conciliação naquilo que seja possível encontrar conciliação [...]. Há uma agenda de desafios comuns com o mundo em desenvolvimento e o mundo dos países menos desenvolvidos. Então acredito que é uma oportunidade para se fazer presente nesse contexto, principalmente de criação de um bloco multilateral", conclui.