"Se a OTAN manda enviar tanques, o governo Sánchez não pode recusar", comentou o diretor de Geoestrategia.es, Juan Antonio Aguilar, sobre o recente anúncio do Ministério da Defesa espanhol de enviar tanques Leopard a Kiev.
No entanto, ele deu três razões pelas quais esses veículos seriam inúteis. Juan Antonio Aguilar explicou que o mau estado dos tanques não é desculpa para não os enviar a Kiev. Pelo contrário, a Espanha tentou cumprir todos os pedidos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Francamente, não acho que seja uma desculpa. O governo espanhol é absolutamente obediente às ordens de Washington e da OTAN. A Espanha é um país com soberania zero em assuntos internacionais e é simplesmente terrível ver um governo de esquerda, supostamente formado por partidos políticos anti-OTAN e antiguerra, levando o país à guerra, por mais que tentem escondê-la desrespeitando a soberania popular e enganando seus eleitores. Se a OTAN ordenar que Madri envie tanques, o governo Sánchez não poderá recusar", disse o analista.
Segundo o especialista, os tanques Leopard 2A4 estacionados em Zaragoza não são movidos há mais de 15 anos, e seria necessário muito trabalho e dinheiro para colocá-los em funcionamento novamente. Avaliando a situação atual, o especialista identificou três principais problemas que o governo espanhol pode enfrentar.
Em primeiro lugar, observou, há o treinamento da tripulação, que leva cerca de 22 meses, mas a Espanha planeja fazê-lo entre quatro e seis semanas. Acontece que tropas ucranianas mal treinadas vão operar um sofisticado sistema de armas no local mais perigoso do mundo, disse o especialista.
"A menos que haja tripulações voluntárias de países da OTAN", acrescentou. O segundo problema é a logística. Uma hora em uma zona de combate equivale a três horas de manutenção nesses tanques. Os soldados ucranianos também precisam de equipes de manutenção altamente especializadas e treinamento para produzir mecânica de qualidade, então o analista duvida que isso possa acontecer.
"Os tanques fornecidos teriam que ser devolvidos aos países da OTAN para qualquer reparo significativo de equipamentos danificados pelo simples uso ou combate real, o que significa que o número total de tanques disponíveis para a Ucrânia seria muito menor do que o número de tanques fornecidos", disse Aguilar.
Em terceiro lugar, o ambiente operacional é outro desafio para Kiev. Os tanques não podem operar sozinhos. Eles devem coordenar com outros tipos de forças, como defesas aéreas, artilharia, drones ou helicópteros de ataque. Além disso, o terreno pelo qual eles avançam deve ser ocupado pela infantaria em formações mecanizadas, explicou ele, chamando essas implantações de tanques de "operação monstruosa" caso tais condições não sejam atendidas.
"Em conclusão, enviar tanques por enviar tanques é mais como uma monstruosa operação de propaganda para continuar dando a impressão de que Kiev ainda tem capacidade militar", enfatizou.
Ao mesmo tempo, Aguilar observou que, embora alguns tanques ocidentais tenham vantagens sobre os tanques russos, o contrário também é verdadeiro. Por exemplo, as tripulações dos tanques russos precisam de três tripulantes, enquanto os tanques ocidentais precisam de quatro. O tanque russo T-90 tem um canhão principal de 125 mm, o Leopard tem um de 120 mm e o tanque russo também tem uma vantagem de alcance de tiro de 4.000 metros contra os 3.500 metros do Leopard, calculou o analista.
"Também tem melhor mobilidade, maior autonomia e capacidade de cobertura, menor perfil para armas antitanque e outro aspecto muito importante: é muito mais barato de produzir", garantiu.
Leopard 2A4 espanhol vs. Leopard 2A6 alemão
Comparando os dois tipos de tanques Leopard, o especialista apontou que os tanques que a Alemanha está enviando para a Ucrânia são pelo menos 15 anos mais novos que os espanhóis, então sua lacuna tecnológica pode ser muito grande. As tripulações desses tipos de tanques não são intercambiáveis, o que agrava o problema em vez de facilitar as operações de combate.
"Cada modelo exigiria uma fase de manutenção diferente, os veículos também exigiriam diferentes peças de reposição, diferentes mecânicos treinados, diferentes munições, mudanças nos sistemas de comunicação, software e outros aspectos técnicos para operar de forma coerente", afirmou.
Portanto, o analista concluiu que enviar 150 tanques Leopard para Kiev não daria nenhuma vantagem ao Exército ucraniano e não mudaria o curso da operação militar especial da Rússia.
"Os 150 tanques da OTAN não terão impacto estratégico. No nível operacional, eles terão muito pouco efeito, com grande custo ou perda, enquanto no nível tático eles poderão conduzir algum tipo de operação que será mais midiática do que militarmente eficaz", admitiu.
A Rússia alertou repetidamente que o fornecimento de armas ao regime de Kiev só vai aumentar as tensões no Leste Europeu e exacerbar o conflito na Ucrânia. No entanto, os Estados Unidos e seus aliados da União Europeia (UE) lançaram uma campanha de sanções contra Moscou para supostamente enfraquecer sua economia e impedir a Rússia de financiar seu Exército.