"É uma guerra com posições cristalizadas se encaminhando para uma guerra de trincheira, da qual o mundo tem horríveis memórias, desde a Primeira Guerra. Então [alimentar o conflito] é o caminho da insensatez. Frente a esse cenário de uma consolidação de posições e de perdas humanas e materiais, não há dúvida alguma de que há uma necessidade de fazer esforços por uma paz. Até hoje, o que a gente teve — e já não foi pouco — foram algumas tentativas que não deram certo. Então o que o presidente Lula está fazendo é absolutamente coerente com a história da diplomacia brasileira e com as posições tradicionais da política externa brasileira."
"Nós temos que olhar, e nós temos, de um lado, a Rússia e, do outro lado, a Europa com os Estados Unidos. Essa é uma situação de uma tensão que pode levar a um confronto inimaginado. Então, portanto, cabe a um fórum, a um grupo de países, assumir essa responsabilidade. Eu não vejo o Brasil em uma posição de protagonismo nesse grupo, apenas de proponente da criação dele", reforça.
"Nós estamos diante de uma escolha europeia sobre com qual dos lados a Europa pretende se alinhar economicamente. O lado chinês tem as ofertas, mas o lado americano também tem. De alguma forma esta pressão dos dois lados está muito presente nas definições que a Europa terá que enfrentar. A Europa terá que enfrentar no pós-guerra da Ucrânia uma escolha tão difícil quanto [a que] tinha na pré-guerra da Ucrânia: qual dos dois lados vai privilegiar quando fizer acordos comerciais, Estados Unidos ou China. O presidente Lula, quando fala de um fórum de paz, ele está falando do redesenho geopolítico do mundo pós-Guerra Fria, pós-ascensão de uma nova potência desafiando a potência original. É disso que nós estamos falando. Quando nós olhamos esse quadro, nós percebemos com mais sutileza o rol de interesses envolvidos em uma guerra em que esses dois atores, Ucrânia e Rússia, de algum modo, não são os atores preponderantes desse conflito."