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Biden movimenta indústria bélica dos EUA e endivida Ucrânia ao estender conflito, diz especialista

© Sputnik / Ilia Pitalev / Acessar o banco de imagensManifestantes satirizam relação entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o da Ucrânia, Vladimir Zelensky, durante ato do Primeiro de Maio do Partido Liberal Democrático da Rússia. Moscou, 1º de maio de 2022
Manifestantes satirizam relação entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o da Ucrânia, Vladimir Zelensky, durante ato do Primeiro de Maio do Partido Liberal Democrático da Rússia. Moscou, 1º de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2023
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A poucas semanas de a operação militar russa na Ucrânia completar um ano, a ajuda militar do Ocidente ao regime de Vladimir Zelensky segue se multiplicando. Os Estados Unidos e a União Europeia continuam distribuindo quantias bilionárias a Kiev em sinalização de que o fim do conflito por uma solução negociada não conta com o apoio ocidental.
Nos últimos dias, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, tem cobrado o aumento do fornecimento de armas à Ucrânia, incluindo armamento pesado, alegando que isso levaria a um caminho de paz. Essa estratégia, no entanto, contraria o que dizem analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, que apontam que o envio de armas massivo apenas agrava o conflito e compromete a segurança na Europa.
Esse reforço sugere que uma solução negociada não é de interesse imediato do Ocidente, em especial dos Estados Unidos. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil explicam que os EUA querem a manutenção do conflito para tentar enfraquecer a Rússia e o governo do presidente Vladimir Putin.
Hugo Alburquerque, editor da Autonomia Literária e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia (Ihudd), destaca que "os EUA não apenas anunciaram o envio de novos equipamentos à Ucrânia, como ainda previram mais investimento na guerra e estão pressionando países europeus a fazerem o mesmo", em especial a Alemanha.

"Isso, em grande medida, movimenta a indústria bélica dos próprios EUA e torna a Ucrânia um país endividado, cuja eventual reconstrução será um ativo do capital estadunidense. Os objetivos dos EUA como nação são conflitantes, mas o que a administração Biden e os democratas têm é, na verdade, uma autorização da elite do seu país a tocar uma política que mira derrotar e aniquilar o presidente Putin para, em um segundo momento, colocar no poder um governo dócil aos EUA."

Albuquerque reforça que "não há um plano claro" dos EUA e destaca críticas de analistas como Henry Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano.
"Falta um plano se a estratégia de Biden 'der certo', isto é: o que os EUA fariam a partir de uma situação de 'vácuo de poder' na Rússia? Não há plano para isso. O que há é a expectativa de que isso reproduza a guerra do Afeganistão com a União Soviética e a Perestroika e daí surja um novo Boris Yeltsin em Moscou", acrescentou.
A presidente do Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento russo), Valentina Matvienko, dá os cumprimentos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a posse. Brasília, Brasil, 1º de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2023
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Objetivo dos EUA é deixar Brasil fora do BRICS, diz analista
Para Valdir Bezerra, pesquisador do Grupo de Estudos sobre os BRICS (GEBRICS) da Universidade de São Paulo (USP), a manutenção do conflito por meio do financiamento do Ocidente faz parte de um plano de Washington de tentar enfraquecer a Rússia internacionalmente.

"O enfraquecimento da posição da Rússia em seu exterior próximo, e na Eurásia de um modo geral, trata-se de um objetivo geopolítico tradicional da política externa americana, o que leva autoridades em Washington a justamente auxiliarem a Ucrânia militarmente, na esperança de que os russos sejam eventualmente derrotados no campo de batalha. Com isso, vê-se cada vez mais dificultada uma solução diplomática para o conflito", aponta o pesquisador da USP.

"Em qualquer conflito ao redor do mundo em que armamentos ou pessoal militar estadunidense tenham participação existe um interesse bastante evidente por parte do complexo militar-industrial americano pela continuidade, e o caso da Ucrânia não é exceção", disse ainda.
Questionados sobre as chances de uma escalada nuclear do conflito em razão da provocação feita diante desse constante apoio militar, os especialistas minimizaram a possibilidade. "Por mais que essa assistência militar à Ucrânia tenha sido bastante reiterada ao longo dos últimos meses, não vejo exatamente uma pressão por parte dos americanos a fim de que a Rússia responda de forma nuclear", diz Bezerra.
Albuquerque acredita que a Rússia terá que "dar uma resposta à altura" se o envio do sistema de mísseis Patriot se efetivar e algum tipo de míssil ofensivo de médio alcance for entregue a Kiev, "mas a Rússia não necessariamente precisaria atacar com armas nucleares".

Demonização russa reforça financiamento, e solução negociada segue distante

Albuquerque enxerga "uma chantagem moral variada" no Ocidente para justificar a expansão da OTAN e do financiamento do conflito.

"Putin é demonizado — nunca criticado em termos reais —, e qualquer um que questione esse envio de armas e dinheiro é, consequentemente, caricaturizado como um apoiador desse 'regime ditatorial maligno'."

"Isso alude, no entanto, a uma disputa entre democratas e republicanos. Essa é a visão democrata da coisa. Já a visão republicana passava por distender com a Rússia para cercar e abafar a China. Já os democratas preferem 'apenas' enquadrar a China e atacar a Rússia. Falta combinar com russos e chineses, no entanto. Porque tudo isso empurra Pequim e Moscou para uma aliança cada vez mais profunda", completa.
Bezerra destaca ainda que "as bases para uma solução política apontada pelos americanos ainda se trata de uma solução cujos termos são inaceitáveis para a Rússia".

"Enquanto isso, na prática, a ajuda estadunidense à Ucrania (que hoje já ultrapassa a casa dos 100 bilhões de dólares [aproximadamente R$ 514 bilhões] e que consiste no fornecimento de armas, inteligência e treinamento de soldados) transformou o conflito em uma espécie de guerra por procuração contra a Rússia, apoiada tanto por democratas quanto por republicanos", apontou o pesquisador da USP.

"Enquanto a retórica for a de derrotar a Rússia no campo de batalha, sem um esforço coletivo por uma solução diplomática, muitos americanos continuarão pagando o preço econômico pela continuidade do conflito. No fim das contas, a solução ideal deveria partir de um processo que permita o estabelecimento de um acordo de paz cujos termos sejam minimamente aceitáveis às partes interessadas (e não ditados unilateralmente por Washington), a fim de que sobretudo a vida dos civis afetados pelo conflito possa retornar à normalidade", acrescentou.
Em primeiro plano, o novo chanceler do Brasil, Mauro Vieira, ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do ex-chanceler e conselheiro de Lula Celso Amorim, durante cerimônia de posse no Itamaraty. Brasília (DF), 2 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.01.2023
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