Lula elenca 'mentiras' sobre BNDES, alfineta imprensa e critica Selic em posse de Mercadante
16:51, 6 de fevereiro 2023
Na posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (6), o governo brasileiro prometeu retomar os investimentos e o financiamento de empresas visando o desenvolvimento do país.
SputnikEm seu discurso, Mercadante reforçou a necessidade da defesa da democracia, do diálogo e do debate para o país avançar.
"Sou de uma geração que lutou pela redemocratização do país. Tomo posse em um momento extremamente desafiador no qual o Brasil sofreu a ameaça mais grave do Estado democrático de direito desde o fim da ditadura militar", declarou Mercadante em seu primeiro discurso como presidente do banco.
Mercadante pediu ainda "respeito à soberania do voto, às instituições democráticas e à Constituição brasileira", que, segundo ele, são "uma exigência fundamental para a nova diretoria do BNDES e para toda a sociedade brasileira". "E desta vez 'sem anistia', presidente", disse, dirigindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Estiveram presentes no evento, além de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff; o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD); e diversos ministros de Estado, entre eles o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Quanto às funções do banco, o
novo presidente do BNDES garantiu que a instituição será "
verde, inclusiva, tecnológica, digital e industrializante" durante o novo governo.
Segundo ele, o BNDES não disputará o mercado "com o sistema financeiro privado". "Precisamos de parceria, o BNDES pode contribuir para reduzir risco, abrir novos mercados, alongar prazos e elaborar bons projetos para o investimento privado", disse.
"Somente na estrutura, nosso hiato de investimento hoje é de R$ 226 bilhões, 2,6% do PIB [produto interno bruto]. É o dinheiro que está faltando para investir em estrutura", afirmou Mercadante.
Além disso, o presidente do banco prometeu retomar parcerias regionais e internacionais, priorizando seus vizinhos e nações do Sul Global. Segundo ele, o país voltará a ser uma "grande liderança ambiental e mundial".
"Nosso desenvolvimento passa necessariamente pela
integração da América Latina e pela
parceria com países do Sul Global. O Brasil é mais da metade do território, do PIB e da população da América do Sul. Estamos irrevogavelmente inseridos nesse contexto geográfico histórico. Nosso destino está, portanto, indissoluvelmente ligado ao destino da nossa região. O Brasil é grande, mas
será ainda maior quando atuar em conjunto com seus vizinhos", garantiu.
Já o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, abriu seu discurso enumerando o que classifica de "mentiras tresloucadas" ditas nos últimos anos que envolveram o BNDES.
"Vivemos um momento no Brasil em que as narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais que muitas verdades ditas muitas vezes. Vivemos nos últimos quatro anos um processo de mentira transloucada. E esse banco foi vítima de muita mentira", afirmou Lula.
O presidente rebateu as acusações de que existia uma "caixa-preta" do banco, de que o PT enviava dinheiro para "países amigos" e de que o BNDES só financiava projetos para grandes empresas.
"A primeira mentira que se contou sobre o BNDES foi a de que o BNDES [tinha uma] [...] caixa-preta. De tanto martelarem isso na cabeça das pessoas, o banco teve que gastar R$ 48 milhões em uma auditoria internacional, e nada de irregular foi encontrado nas operações, porque todas foram contratadas com critérios técnicos e garantias firmes, sob controles de dirigentes de um corpo técnico altamente qualificado", declarou Lula.
O presidente aproveitou para alfinetar a cobertura da imprensa sobre o assunto. Segundo ele, "muitas vezes os meios de comunicação preferem privilegiar a mentira do que procurar saber a verdade".
Quanto ao financiamento de obras em outros países pelo BNDES, Lula afirmou que o banco financiou serviços de engenharia de empresas brasileiras em 15 países da América Latina e do Caribe entre 1998 e 2017.
Quanto às acusações de que "países amigos" não terminaram de pagar suas dívidas, Lula apontou que os contratos em atraso estão "cobertos por garantia".
"Os países que não pagaram, seja Cuba ou Venezuela, o presidente [ex-presidente Jair Bolsonaro] resolveu cortar relação internacional e, para poder ficar nos acusando, deixou de cobrar. Tenho certeza que no nosso governo esses países vão pagar, porque são todos amigos do Brasil", garantiu Lula.
Ainda segundo Lula, a terceira mentira seria o tratamento diferenciado dado pelo banco de desenvolvimento a grandes empresas, preterindo pequenos empresários em prol de grandes conglomerados.
Ele afirmou que 97% do financiamento indireto por meio de rede bancária foram para pequenas e médias empresas. Contudo ele admitiu que, além da quantidade individual dos empréstimos, o volume total do financiamento precisa ser ampliado para esse segmento.
"É importante ter clareza que o BNDES tem que privilegiar o financiamento de micro e pequenos empreendedores para que a gente dê um salto de qualidade na produção e no crescimento econômico deste país", disse.
6 de fevereiro 2023, 13:01
'Não tem explicação', diz Lula sobre Selic alta
O presidente também teceu
críticas à taxa Selic, taxa básica de juros da economia, que
está fixada em 13,75% desde o dia 3 de agosto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), muitas vezes indicado por economistas como motivo para a alta dos juros,
foi de 10,06% em 2021 e de 5,79% em 2022.
"Não tem explicação para que a taxa de juros esteja a 13,5%", declarou. "Eu pensei 'Bom, agora tudo se resolveu, com o Banco Central independente não vai ter mais problema de juros'. Ledo engano. O problema não é ser independente ou ligado ao governo. O problema é que o país tem uma cultura de viver com juros altos, o que não combina com a necessidade do crescimento que nós temos."
Segundo Lula, o BNDES "pode contribuir para que a taxa de juros caia", lembrando que "faz anos que brigamos" contra a elevação da Selic no Brasil.
"Esse país tem que ser reconstruído, e a gente não pode demorar, não pode esperar muito", disse. E, dirigindo-se a Mercadante, afirmou: "Espero que sua inteligência e competência faça esse banco voltar a ser um banco indutor do desenvolvimento e crescimento econômico deste país."
6 de fevereiro 2023, 10:34