No último sábado (4), UE aprovou um teto de preço para uma série de produtos derivados de petróleo russos transportados por via marítima e o limite máximo, que se aplica a empresas e territórios logísticos controlados pela comunidade política. A medida entrou em vigor no domingo (5).
O primeiro teto para produtos petrolíferos negociados com desconto em relação ao petróleo bruto, como óleo combustível, seria de US$ 45 (cerca de R$ 233) por barril, enquanto a segunda, para derivados de petróleo comercializados a preços mais altos do que o petróleo bruto, como diesel ou querosene, seria de US$ 100 (aproximadamente R$ 517) por barril.
A medida ainda se encontra em um período transitório de 55 dias para conclusão dos contratos de fornecimento celebrados antes da introdução da limitação de preços. O nível dos tetos vai ser verificado a cada dois meses.
Segundo José Ignacio Martínez Cortés, coordenador do Laboratório de Análise de Comércio, Economia e Negócios (LACEN) da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), na América Latina a decisão da UE de limitar os preços pode ter consequências em dois sentidos:
1.
que a Venezuela seja fornecedora de derivados de petróleo para os Estados Unidos, bem como a reafirmação dos laços econômicos entre a América Latina e a Rússia;2.
um aumento nos preços dos produtos importados que pode impactar uma alta de inflação.Em entrevista à Sputnik, o acadêmico indicou que embora ainda não tenha havido nenhum acordo formal entre os Estados Unidos e a Venezuela, a verdade é que Washington poderia reduzir as sanções impostas a Caracas para se abastecer de petróleo. Segundo ele, isso geraria um conflito interno nos EUA.
"Se um acordo entre a Venezuela e os Estados Unidos for finalizado, Biden teria um grande problema internamente, especialmente no Senado", afirmou.
Martínez Cortés destacou que, de imediato, a decisão da UE só contribui para os Estados Unidos, já que este país se tornou o principal exportador de petróleo do bloco europeu, área que paga mais pelo recurso devido às sanções que impôs à Rússia.
"Sem dúvida, o país que se beneficia são os Estados Unidos porque está substituindo a Rússia como fornecedora da zona do euro", afirmou.
Segundo o grupo de pesquisa Wood Mackenzie, o embargo vai reduzir os estoques de combustível no noroeste da Europa para 210,4 milhões de barris até o final do inverno, o menor nível desde 2011, além de especialistas considerarem a possibilidade de racionamento de diesel.
Uma vez que o combustível é necessário para o transporte de mercadorias, os preços destas vão aumentar e existe o risco de a inflação na zona do euro subir ainda mais, alertaram.
Esse mesmo efeito de aumento de preços e aumento da inflação pode ocorrer na América Latina graças à decisão da UE.
"Em geral, para a América Latina, quem importa produtos dos países da Eurocomunidade, ao aumentar os preços desses produtos, obviamente também aumentará para os latino-americanos, o que pode aumentar novamente a inflação", explicou Martínez Cortés.
No dia 19 de dezembro, a UE concordou em impor um limite ao preço do gás no âmbito de um mecanismo de correção do mercado. O presidente russo, Vladimir Putin, comentando a ideia de restringir os preços dos recursos energéticos russos, afirmou que a Rússia não forneceria nada ao exterior caso isso fosse contradizer seus interesses. Por sua vez, o embaixador para missões especiais do Ministério das Relações Exteriores, Yuri Sentyurin, explicou que o estabelecimento de um limite no preço do gás importado contraria as leis do mercado e vai acabar por desestabilizá-lo.
A UE vive atualmente uma crise energética devido aos elevados custos do gás e da eletricidade. Os preços dispararam devido às sanções ocidentais impostas à Rússia pela operação militar especial de desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, que, em particular, restringem a exportação desses produtos energéticos.