Na quarta-feira (8), o assunto que tomou as mídias e se tornou um dos tópicos mais discutidos no Twitter foi o artigo escrito pelo jornalista norte-americano e vencedor do prêmio Pulitzer, Seymour Hersh, no qual Hersh afirma que foram os Estados Unidos, em conjunto à Noruega, que colocaram os explosivos para detonar os gasodutos Nord Stream no ano passado.
Os explosivos foram manipulados nos gasodutos através de uma operação secreta em meio aos exercícios navais da OTAN chamados BALTOPS22 do ano passado. Enquanto o treinamento ocorria, uma equipe de mergulhadores profissionais implantaram as bombas e as detonaram remotamente semanas depois.
Entretanto, muito antes do ataque ao Nord Stream, Washington já ganhou a reputação de explodir coisas, espionar e organizar golpes em países estrangeiros, ao mesmo tempo em que tenta se retratar como o "mocinho" bom e correto na arena política mundial.
O próprio Hersh recordou, ao longo de seu artigo, que na década de 1970, especialistas norte-americanos conseguiram instalar um grampo em um cabo de comunicações subaquáticas da Marinha soviética no mar de Okhotsk.
Mas ao contrário da investida contra os gasodutos, esta ação visava um elemento de infraestrutura militar, não civil. Ao mesmo tempo, a Operação Ivy Bells, como ficou conhecida, também ajudou os EUA a obterem informações valiosas e não desferiu um golpe na economia de um país aliado, enquanto a explosão do Nord Stream essencialmente privou a Alemanha, de sua principal fonte de gás natural barato.
Na década de 1950, a CIA orquestrou a derrubada do primeiro-ministro iraniano, Mohammad Mossadegh, com o esforço envolvendo ataques terroristas de bandeira falsa que foram atribuídos a comunistas locais que apoiavam o governo de Mossadegh.
Os esforços norte-americanos para derrubar o líder cubano Fidel Castro, que ousou governar seu país sem se curvar a Washington, envolveu dezenas de tentativas de assassinato e até mesmo uma invasão total por um grupo de exilados cubanos financiados e dirigidos pelos Estados Unidos.
Na época, o país estadunidense chegou a cogitar a realização de atos de terror contra alvos em seu próprio território, tanto civis como militares, para culpar Havana por esses ataques e assim obter um pretexto para declarar guerra contra a nação insular.
Essas propostas, conhecidas como Operação Northwoods, nunca foram implementadas após a avaliação do então presidente norte-americano, John F. Kennedy, que as torpedeou.
Já na década de 1980, os EUA vendiam secretamente armas para o Irã, um dos seus principais inimigos desde a Revolução Iraniana de 1979, a fim de usar o dinheiro dessas vendas para financiar secretamente os rebeldes do CONTRAS, na Nicarágua, que lutavam contra o governo marxista do país.
No Brasil, a Operação Lava Jato de 2014, começou como a "maior operação contra a corrupção do mundo" e se mostrou posteriormente como uma estratégia bem-sucedida norte-americana para minar a autonomia geopolítica brasileira e acabar com a ameaça representada pelo crescimento de empresas que colocariam em risco seus próprios interesses.
A história dos bastidores da operação foi divulgada pelo Le Monde em uma reportagem de abril de 2021, na qual afirmava que tudo teria começado em 2007, durante o governo de George W. Bush.
Dentro de casa
Mas não foram só em países estrangeiros que o governo norte-americano atuou de forma questionável ou clandestina, em seu próprio território algumas ações também ocorreram.
Na década de 1950, sob as diretrizes do projeto MKUltra, a CIA realizou experimentos humanos ilegais visando desenvolver novos métodos de lavagem cerebral e tortura para serem usados em interrogatórios, usando essencialmente cidadãos americanos como cobaias. O planejamento envolvia, entre outras coisas, o estudo dos efeitos de drogas psicoativas como o LSD nas pessoas.
Nas décadas de 1960 e 1970, a inteligência norte-americana também executou um programa de espionagem doméstica chamado Operação CHAOS, visando dissidentes políticos e grupos antiguerra que surgiram em meio à amplamente impopular Guerra do Vietnã.
Ironicamente, a Operação CHAOS acabou sendo exposta por ninguém menos que Seymour Hersh, quando lançou luz sobre o massacre de civis vietnamitas na vila de My Lai pelas tropas americanas.
Em 2013, o ex-contratado da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden, ajudou a expor um vasto programa de vigilância global da agência, tanto no país quanto no exterior, em cooperação com certas agências de inteligência ocidentais, incluindo britânicas e alemãs, e empresas de tecnologia proeminentes como Microsoft e Google.
O relato de Hersh, que confirmou à Sputnik e autenticidade e veracidade de seu artigo intitulado "How America Took Out The Nord Stream Pipeline" (Como a América tirou o gasoduto Nord Stream, na tradução), se soma a vários casos que quando chegam ao público, Washington trata como "um mistério não resolvido".
Nesse episódio em particular, a Rússia foi repetidamente citada como provável culpada, mas sem nunca ter sido estabelecido um motivo claro para tal ato de autossabotagem. Nesta quinta-feira (9), o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou está certa de que os EUA sofrerão as consequências após a publicação dos resultados da investigação sobre o envolvimento de Washington no caso do Nord Stream.
De acordo com o The Washington Post, na capital norte-americana e arredores, 33 complexos de edifícios para trabalho de inteligência ultrassecreto estão em construção ou foram construídos no local. Juntos, eles ocupam o equivalente a quase três Pentágonos ou 22 prédios do Capitólio.
Todo esse aparato concede aos EUA espionarem não só seu próprio território como todo o mundo, além de permitir que tudo fique oculto devido ao forte time por trás das autoridades públicas que, na "superfície", ou seja, diante do mundo, trazem a bandeira da diplomacia e do diálogo, mas, em geral, estão cientes das operações em curso nos bastidores.