Panorama internacional

Por que, apesar do desejo de paz, a corrida armamentista na Ásia-Pacífico está aumentando?

O Japão vai comprar até 400 mísseis de cruzeiro norte-americanos Tomahawk. A Sputnik perguntou a um especialista por que, apesar do desejo de paz de todos, a corrida armamentista na região da Ásia-Pacífico está apenas aumentando, e o retorno de Tóquio ao caminho da militarização nunca levará à estabilização.
Sputnik

À maneira norte-coreana

Acredita-se que a corrida armamentista na região esteja em curso desde que a Coreia do Norte desenvolveu um escudo de mísseis nucleares diante dos planos dos EUA de derrubar o governo norte-coreano.
Isso mudou fundamentalmente o ambiente militar e político no Extremo Oriente e no Nordeste da Ásia, segundo Anatoly Koshkin, doutor em História e professor do Instituto dos Países do Oriente.

"A posse de armas nucleares e mísseis modernos por Pyongyang durante a presidência de Trump impediu os americanos de agravar a situação na península coreana [...] Hoje, Tóquio afirma abertamente que vai aumentar sua capacidade militar, duplicando seus gastos militares. E também está intensificando a cooperação técnica militar com os EUA, comprando cada vez mais mísseis avançados", diz ele.

E isso está ligado não apenas ao agravamento da situação político-militar na região, mas também ao envolvimento do grande capital japonês na militarização do país.
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Envolvimento das empresas na escalada militar?

"O investimento empresarial no setor militar é agora considerado como um motor de desenvolvimento – um catalisador para o crescimento da economia japonesa", diz Anatoly Koshkin.
Segundo ele, a criação de um complexo industrial-militar nacional no país, o aumento das capacidades industriais-militares e o desenvolvimento de seus próprios tipos de armamentos avançados são agora vistos como uma solução para a estagnação prolongada da economia japonesa.
Assim, as mudanças atuais no Japão fazem parte de uma política nacional destinada a um futuro especificamente definido, conclui o especialista.

Pelo plano de Washington?

"Anteriormente, os americanos continham as ambições militares japonesas de defesa, se lembrando de seu confronto com esta nação durante a Segunda Guerra Mundial. Mas agora os Estados Unidos estão apenas encorajando e saudando o retorno do Japão ao status de potência militar", observa Koshkin.
De acordo com ele, Washington simplesmente não tem mais escolha a não ser ter um Japão militarmente poderoso novamente. O objetivo é envolver Tóquio na implementação dos planos estadunidenses na região.
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A criação do fórum Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad) e da aliança militar AUKUS pelos norte-americanos na região, com tentativas de envolver também a Índia, serve ao mesmo propósito. Isso levanta preocupações reais, uma vez que há contradições entre Nova Deli e Pequim.
O envolvimento do Japão e da Índia nas novas alianças criadas por iniciativa dos Estados Unidos é, portanto, muito preocupante, salienta o especialista.
Enquanto isso, a prefeitura de Okinawa, em que regularmente se realizam protestos, não está satisfeita com esta situação, já que este foi o local das piores batalhas no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, e a memória das desgraças e dos horrores da guerra ainda está viva na mente de muitos.
E seus habitantes não quereriam se tornar novamente um "alvo", sacrificando suas vidas pacíficas.
Hoje, Okinawa foi transformada em uma das principais bases norte-americanas fora dos EUA em caso de guerra nuclear. A Casa Branca não confirma nem nega a presença de armas nucleares em solo japonês.
Mas o especialista está convencido de que tais armas estão presentes lá. Porque o "caráter estratégico" das bases norte-americanas em Okinawa não permite uma situação na qual as cargas, mísseis e bombas nucleares sejam transportados a partir do próprio território dos EUA.
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Ilha-refém cercada por bases militares

Podemos dizer que a luta de décadas dos okinawanos pela remoção das bases norte-americanas da ilha está, de fato, condenada ao fracasso, acredita o especialista. Os EUA só concordam em relocalizar uma parte delas.
"Contudo, não seria para longe do Japão, por exemplo para a ilha de Guam, mas ainda dentro da prefeitura de Okinawa", recorda Koshkin.
Os EUA também podem criar novas ilhas destruindo os belos corais e a flora e fauna únicas desses lugares. Mas o governo japonês está seguindo o curso de Washington, portanto, não está em posição de se opor a seus planos.
E agora, a ilha, como o próprio Japão, está em risco de uma corrida armamentista crescente e de sérios conflitos militares.
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