Panorama internacional

Países devem se livrar do 'vampiro sugador' do sistema financeiro dos EUA, diz analista

Hegemonia do dólar está em franco declínio e EUA têm poucas armas para evitá-lo, disse analista canadense durante simpósio em Moscou. Ao se livrarem de "vampiro sugador" do mercado financeiro dos EUA, países não ocidentais terão seus produtos e moedas devidamente valorizados.
Sputnik
Nesta quarta-feira (5), especialistas russos e canadenses reunidos no clube de discussão Valdai debateram o declínio da hegemonia do dólar na economia mundial.
A nova configuração geopolítica trouxe o tema da desdolarização para o centro da agenda, sendo inclusive incluído na nova concepção de política externa russa.
De acordo com o chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, a desdolarização veio para ficar e é fruto da perda de confiança no Ocidente.

"Eles congelam os ativos de diversos países e no nosso caso praticamente roubaram ativos avaliados em US$ 300 bilhões [cerca de R$ 1,5 trilhão]", disse Birichevsky à Sputnik Brasil. "Outros países entendem que hoje isso é feito contra a Rússia, mas amanhã pode ser feito com qualquer um deles."

De acordo com o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões de reservas internacionais da Rússia foram detidos por EUA, União Europeia, Reino Unido e Canadá, após o agravamento do conflito ucraniano. Anteriormente, países como Venezuela e Irã já haviam sido alvo de confiscos semelhantes.
Chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
Por isso, países do BRICS "discutem ativamente" a formação de sistemas de pagamentos alternativos ao liderado pelos EUA e diminuem a formação de reservas em dólares.
"O sistema financeiro forjado após a Segunda Guerra Mundial garantiu que o centro privilegiado fosse financiado às custas da maioria mundial", explicou o diplomata russo. "Para nós, isso é um sistema neocolonial."
Acordos como o firmado por Brasil e China para comercializar em moedas nacionais são um passo fundamental para superar a hegemonia do dólar. No entanto, analistas brasileiros temem uma possível retaliação de Washington para defender a sua moeda.
O vice-presidente da China, Wang Qishan, dá os cumprimentos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a posse. Brasília, Brasil, 1º de janeiro de 2023
"A posição da economia americana ainda é considerável [...] sua capacidade de chantagear e pressionar países terceiros ainda é grande", considerou Birichevsky. "Vemos como os norte-americanos conseguem resultados, por exemplo, na Assembleia Geral da ONU: através da chantagem e da intimidação que, infelizmente, muitos países ainda não têm condições de resistir."
Por outro lado, a capacidade dos EUA de reagir ao declínio do dólar é, atualmente, limitada, acredita a professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai.
"Os EUA no passado foram de fato à guerra contra países que questionaram a hegemonia do dólar, como o Iraque e a Líbia", disse Desai à Sputnik Brasil. "Mas os Estados Unidos não ganharam essas guerras, o que abalou o apoio popular a esse tipo de medida."
Além disso, os EUA enfrentam problemas econômicos internos graves, como a crise bancária e o aumento recorde da desigualdade social doméstica.
Professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
"A habilidade dos EUA de reagir a movimentos como o brasileiro está limitada. Eles com certeza gostariam [de reagir] e estão comprometidos com o sistema do dólar", considerou Desai. "Mas as contradições internas do sistema estão em ebulição dentro dos próprios EUA."
A especialista canadense acredita que o fim da hegemonia do dólar liberará o mundo do "vampiro sugador que é o sistema financeiro norte-americano" e será positivo para países não ocidentais, que sofrem com a desvalorização artificial de suas moedas e produtos.

"Uma das maiores vantagens de substituir esse sistema delirante com um mais são é que os produtos fabricados por países não ocidentais atingirão o valor que merecem. As moedas dos países não ocidentais são artificialmente desvalorizadas, por isso produtos russos, indianos e até chineses não recebem o valor que merecem", apontou Desai.

Nesta quarta-feira (5), especialistas russos e canadenses se reuniram no simpósio "A nova ordem econômica: é realmente possível acabar com o monopólio do dólar?", promovido pelo clube de discussão Valdai, em Moscou.
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