Panorama internacional

Sánchez manipula história da Espanha para justificar envio de armas à Ucrânia, diz político espanhol

Recentemente, Pedro Sánchez destacou o compromisso espanhol de apoiar militarmente a Ucrânia o justificando com uma "farsa da diplomacia" que negligenciou as "súplicas" da Espanha durante a Guerra Civil, esquecendo-se do apoio da União Soviética, do México e das Brigadas Internacionais.
Sputnik
Na quarta-feira (19), durante discurso para deputados, o premiê espanhol abordou a questão ucraniana, incluindo o envio de tanques Leopard e outros materiais militares.
"Contribuímos com dez Leopard 2 e mais de € 600 milhões [R$ 3,3 bilhões] em um fundo de paz. Estamos treinando mais de 2.400 soldados ucranianos."
Nas palavras de Sánchez, o conflito na Ucrânia "reforçou a unidade europeia e a confiança na Aliança Atlântica. A Espanha continuará a apoiar a Ucrânia com determinação, primeiro apoiando-a para se defender, tanto a nível militar como diplomático", assegurou.
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Salientando que a Madri fará "o que for preciso" durante os seis meses da presidência espanhola na União Europeia para trazer a Ucrânia para o bloco europeu. Sánchez garantiu que o governo espanhol o fará "por convicção moral e memória democrática", ideia que justificou relembrando o passado.
"No passado, nosso país também clamava por ajuda, nossos apelos terminaram em uma farsa diplomática que hoje tentaremos impedir que aconteça na Ucrânia."
O premiê referia-se à situação criada em 1936 após o golpe perpetrado por generais fascistas que levou a uma Guerra Civil em que a República da Espanha.
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Madri pediu ajuda ao Reino Unido e à França para se defender das agressões, mas foi negada. Por outro lado, outras ajudas vieram na forma das Brigadas Internacionais, com apenas dois países enviaram ajuda constante à Espanha para combater o fascismo: a União Soviética e o México.
Ao longo dos três anos de Guerra Civil, Moscou forneceu 648 aeronaves (caças I-15 e I-16, bombardeiros SB e outros), 347 tanques (principalmente T-26), 60 veículos blindados, mais de 1.100 peças de artilharia, 340 morteiros, 20 mil metralhadoras, quase 500 mil fuzis e 862 milhões de munições, segundo o Russia Beyond.
O ministro da Marinha e da Aviação da República Espanhola, Indalecio Prieto, disse, em janeiro de 1937: "A União Soviética foi o único [exceto o México] que concedeu apoio em armas à República Espanhola, de forma simples e sem palavras, fornecendo tudo o que podia."
O cientista político e ex-congressista Manuel Monereo, também lembrou em entrevista à Sputnik que "o México nos ajudou muito" e, em sua visão, as declarações de Sánchez "servem fundamentalmente para demonizar a Rússia e, de forma oculta, mudar a história".
"Sánchez esconde a ajuda ativa e permanente da Rússia, a ajuda ativa e permanente do México antes, durante e depois da guerra, e o imenso sacrifício da esquerda comunista e socialista internacional, que enviou ajuda e solidariedade, colocando as Brigadas Internacionais milhares de mortes."
Para Monereo, as afirmações do premiê inserem-se em um contexto mais amplo, onde "em certa medida" se trata também de "perpetuar a cultura franquista que continua a marcar grande parte da cultura política espanhola", uma vez que "o esquecimento histórico não diz a verdade".
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Ainda na visão do político espanhol, "Pedro Sánchez não só manipulou a história ontem [19], como também não disse a verdade sobre a Ucrânia".

"O problema subjacente é o triste papel da social-democracia em todos os lugares, que também está desaparecendo. O caso mais vergonhoso é o da social-democracia alemã", diz Monereo, que acredita que a "virada radical" de Olaf Scholz não é apenas em relação à Rússia, "mas também em relação à Ostpolitik, cujo princípio é que não há política de segurança na Europa que não parta de um acordo com a Rússia."

O ex-deputado acredita que este é o contexto e a tendência em que se movem Pedro Sánchez e o Partido Socialista Operário Espanhol, ao ritmo das social-democracias europeias.
"A Alemanha se convenceu de que é a infantaria leve da política dos EUA na Europa. O problema é que a direita e a extrema direita sempre foram melhores por isso. Acontecerá que a social-democracia desaparecerá, porque nesse clima de cultura de guerra e os valores da esquerda não têm muito futuro", alerta.
Sánchez também comenta que a Espanha tem um compromisso com a "paz": "Este governo quer a paz, nós trabalhamos pela paz. Rejeitamos viver em um mundo ditado pela lei do mais forte, que é o que Putin está fazendo. Reafirmamos nosso compromisso com o Direito Internacional e com a convivência pacífica entre as nações."
No entanto, é importante lembrar que Madri, como aliada dos EUA e membro da OTAN – organização que se tem distinguido nos últimos 30 anos precisamente por impor a lei do mais forte em países como a Líbia, o Afeganistão ou a Somália – tem participado também de agressões militares fora do Direito Internacional, como na Iugoslávia e, inicialmente, no Iraque.
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