Panorama internacional

Progressismo na América Latina ajudará a blindar região da crise bancária dos EUA, diz economista

A crise bancária que Washington atravessa preocupa e sem dúvida atinge países em todo o mundo, entretanto, entre países latino-americanos, a crise poderá ser sentida, mas com menos impacto. A Sputnik entrevistou o economista paraguaio Víctor Benítez González para saber mais sobre o assunto.
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Em meio à crise bancária que eclodiu nos Estados Unidos com a falência do Banco do Vale do Silício (Silicon Valley Bank) em março e o avanço no processo de desdolarização global, o atual contexto da economia norte-americana não é um dos mais promissores, e faz lembrar a grave crise que abateu o país em 2008.
Entretanto, há uma diferença a nível mundial diante deste cenário, principalmente entre países da América do Sul. Na visão de Víctor Benítez González, tanto o Brasil quanto os vizinhos que compõem o Mercosul estão em melhor posição do que há 15 anos atrás, e com isso, podem não sentir o impacto do colapso dos bancos estadunidenses.

Para González, "naquela época os governos progressistas da região estavam 'aterrissando', o novo governo Lula está apenas 'decolando' e ainda mantém alta credibilidade nos setores populares e empresariais", disse o economista entrevistado pela Sputnik.

Com esse cenário, González cita algumas medidas adotadas por Luiz Inácio Lula da Silva, as quais considera fundamentais para "blindar" o gigante sul-americano de qualquer crise econômica. Entre elas, o economista cita a nomeação da ex-presidente, Dilma Rousseff, à frente do Banco do BRICS, e a promoção do também brasileiro Ilan Goldfajn à chefia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
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Ao mesmo tempo, o analista chama atenção para medidas paralelas adotadas pelo mandatário brasileiro, como a busca pela paz na Ucrânia e a promoção do comércio em yuan ou outras moedas a fim de consolidar a independência do dólar.
"Com essas jogadas de mestre há uma relativa independência: se a carne brasileira tiver dificuldades, não sobrar dólares ou surgirem barreiras tarifárias, ela vira mais para a China e vai receber outras moedas", ressaltou González lembrando que tendo seus aliados no BID e no Banco do BRICS permite ao Brasil financiar a movimentação de grãos e carnes e acelerar o desenvolvimento de suas empresas nacionais.
Como se não bastasse, o economista aponta que o crescimento econômico da Índia – que implica em tirar milhões de pessoas da pobreza – vai gerar uma demanda por proteínas que o Brasil e seus vizinhos do Cone Sul poderão atender vender para a potência asiática.
O Mercosul também funciona, segundo o especialista, como "um escudo contra eventuais crises, principalmente nos países do norte". Nesse sentido, ele destacou que um maior apoio ao bloco por parte do atual governo brasileiro pode fortalecer as economias da região e torná-las menos vulneráveis ​​do que no passado à crise dos bancos norte-americanos.
"Será reativada a rota comercial entre Buenos Aires e São Paulo, passando pelo Uruguai, que é a rota de mercadorias mais importante da América do Sul em toneladas e em dólares. Se o Mercosul conseguir isso, será uma região orgânica, não contaminada pelos 'jogos de cassino' que é o mercado financeiro americano", afirmou.
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Assim como o jornalista Pepe Escobar relatou à Sputink, González enxerga o mercado financeiro dos Estados Unidos como "um cassino" e, longe de se constituir como um mercado livre, "está concentrado em oito ou nove fundos de investimento que movimentam 80% dos papéis que são negociados na Wall Street", complementou.
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