O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, revelou anteriormente que os EUA instaram a nação a fornecer seu avançado sistema de defesa antimísseis, o S-400 Triumph, ao regime de Kiev.
"Dissemos que não", sublinhou Cavusoglu, citado pela imprensa turca. O ministro das Relações Exteriores acrescentou que a proposta era inaceitável, pois buscava infringir a soberania da Turquia.
"Este é um ataque à nossa soberania e independência", repetiu Ahmet Berat Chonkar. "Turquia é um Estado soberano que toma suas próprias decisões estratégicas em relação aos seus próprios interesses. A Turquia não é um estado americano, nem é governado por um governador americano. Esta é uma proposta ultrajante e totalmente inaceitável."
Washington está em desacordo com Ancara sobre sua decisão de comprar o sistema de defesa antimísseis de última geração da Rússia desde 2017. Naquela época, o governo turco chegou a um acordo com a Rússia depois de não conseguir fechar um acordo com os EUA sobre o fornecimento de defesas aéreas adicionais para o país.
De acordo com observadores dos EUA, a Turquia começou a soar o alarme sobre sua vulnerabilidade durante a Guerra do Golfo (1990-1991), quando Ancara pediu para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) proteger a nação de possíveis ataques retaliatórios de mísseis SCUD do então líder iraquiano Saddam Hussein. A aliança concordou em implantar seus sistemas Patriot sob a bandeira da OTAN. No entanto, era importante para Ancara construir seu próprio escudo de defesa aérea para proteger a soberania do país.
No entanto, Washington se recusou a vender seu sistema para Turquia, levando Ancara a recorrer à Rússia. A alternativa da Rússia era avançada, flexível e mais acessível do que o sistema Patriot-2 dos EUA.
Autoridades dos EUA e da OTAN se opuseram ao plano de Ancara de comprar o S-400 fabricado na Rússia, alegando que seria incompatível com os sistemas militares do bloco transatlântico e representaria uma ameaça ao programa furtivo F-35 da aliança.
A liderança turca argumentou que o S-400 não seria integrado a um sistema da OTAN e, portanto, não representaria nenhum desafio para os armamentos da aliança. Ancara também se ofereceu para criar uma comissão para resolver o assunto. No entanto, Washington expulsou Ancara do programa multinacional de caças F-35 de quinta geração liderado pelos EUA em 2019 — embora Turquia tivesse investido US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 9 bilhões na cotação atual) nele.
Comentando o assunto no domingo (7), Cavusoglu apontou que Ancara não vai retornar ao programa F-35, mas quer que Washington devolva o dinheiro gasto no desenvolvimento das aeronaves. Além disso, o ministro das Relações Exteriores enfatizou que a Turquia está focada em produzir sua própria "aeronave de combate nacional", conforme relatado anteriormente.
As relações entre Washington e Ancara parecem ter atingido um novo ponto baixo: o ministro do Interior turco, Suleyman Soylu, acusou os EUA de se intrometer nas próximas eleições gerais do país e criticou a mídia ocidental por manipulação e difamação. No dia 3 de maio, Soylu alertou que os EUA tentariam um golpe presidencial durante as próximas eleições para terminar o que foi iniciado em julho de 2016.
A relutância da Turquia em aderir às sanções antirrussas de Washington sobre a operação militar especial de Moscou para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia é apontada por observadores internacionais como uma razão para a crescente pressão do Ocidente sobre Ancara.
"Essa pressão é inútil", disse Berat Chonkar. "Os EUA e a Europa tomam decisões específicas sobre sua política externa e não as discutiram com a Turquia. Claro, a Turquia não apoiará uma decisão tomada sem o conhecimento deles. A Turquia segue uma política independente baseada em seus interesses nacionais e prioridades de segurança. Turquia segue apenas as resoluções relevantes da ONU, e as decisões tomadas unilateralmente por outros países não são vinculativas", disse Chonkar.