Novas revelações dos chamados vazamentos do Pentágono da inteligência dos EUA relacionados à Ucrânia expuseram evidências de discussões entre o presidente Vladimir Zelensky e sua equipe sobre a necessidade de bombardear um importante gasoduto russo que vai para a Hungria, ocupar território russo e atacar o país usando mísseis de longo alcance da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Em uma das conversas vazadas, datada do final de janeiro, Zelensky supostamente propôs "promover ataques à Rússia" e "ocupar cidades fronteiriças russas não especificadas" em uma tentativa de "dar a Kiev vantagem nas negociações com Moscou".
Em outro, ocorrido em fevereiro entre Zelensky e o comandante-em-chefe das Forças Armadas ucranianas, Valery Zaluzhny, o presidente ucraniano "expressou preocupação" com a falta de "mísseis de longo alcance capazes de atingir as tropas russas na Rússia, nem qualquer outra coisa com a qual atacá-los" e recomendou mirar em "locais de implantação [na região de] Rostov" usando drones.
Em um terceiro, também de fevereiro, desta vez com a vice-primeira-ministra Yulia Sviridenko, Zelensky propôs "explodir" o maciço gasoduto Druzhba de construção soviética que vai da Rússia através da Ucrânia em direção à Hungria, Eslováquia e a República Checa para "destruir" a indústria húngara, "que se baseia fortemente no petróleo russo".
Oficiais de inteligência dos EUA qualificaram a última conversa como sendo a demonstração da frustração de Zelensky, possivelmente "expressando raiva em relação à Hungria e, portanto [...] fazendo ameaças hiperbólicas e sem sentido".
No entanto, o registro das ações de Kiev ao longo do ano passado no conflito com a Rússia mostra o contrário — com assassinatos de funcionários em Donbass, Kherson e Zaporozhie, atentados terroristas contra jornalistas, ataques a infraestrutura, bases aéreas, usinas nucleares e até mesmo contra o Kremlin, demonstrando que Zelensky e seu governo não têm escrúpulos em usar métodos terroristas, como o governo Biden.
Em setembro passado, três das quatro linhas da rede de gasodutos Nord Stream (Corrente do Norte) que vão da Rússia à Alemanha ao longo do fundo do mar Báltico foram danificadas em um ataque de sabotagem em larga escala, com o impacto econômico de longo prazo na Europa estimado em centenas de bilhões de dólares na forma de preços mais altos de energia e desindustrialização de cadeias produtivas. O veterano jornalista investigativo norte-americano Seymour Hersh revelou mais tarde a culpa direta dos EUA no ato de sabotagem e terrorismo.
Farinha do mesmo saco
Em meio ao aumento das tensões sobre Taiwan, algumas autoridades dos EUA também parecem querer aplicar táticas de terror ao estilo da Ucrânia no confronto contra a China. Na semana passada, um congressista dos EUA recebeu uma rara repreensão do ministro da Defesa de Taiwan depois de sugerir que os EUA "explodissem" a Empresa de Fabricação de Semicondutores de Taiwan (TSMC, na sigla em inglês) – a gigante da fabricação de circuitos integrados do pais.
Os militares de Taiwan estão lá para "proteger" a ilha e seu povo, materiais e recursos estratégicos. "Como nossas Forças Armadas podem tolerar essa situação se alguém diz que quer bombardear isso ou aquilo?", questionou o ministro da Defesa, Chiu Kuo-cheng, durante uma entrevista coletiva esta semana.
Os comentários de Chiu foram uma resposta às observações do congressista democrata de Massachusetts, Seth Moulton, que disse à audiência em um fórum de um think tank no início deste mês que os EUA deveriam considerar a destruição da "joia da coroa" econômica de Taiwan se ela fosse ameaçada por Pequim.
"Uma das ideias interessantes que surgiram para dissuasão é apenas deixar bem claro para os chineses que, se você invadir Taiwan, vamos explodir o TSMC. Vou jogar fora não porque é necessariamente a melhor estratégia, mas porque é um exemplo do debate que existe", disse o legislador.
A mídia chinesa criticou a sugestão de Moulton, acusando os formuladores de políticas dos EUA de falar abertamente sobre a destruição de Taiwan. "Os políticos americanos nem mesmo falam da boca para fora sobre os interesses de Taiwan, muito menos pensam neles. Eles estão planejando transformar o TSMC no próximo Nord Stream?", perguntou o Global Times no Twitter.
A assessora de política de defesa dos EUA, Michele Flournoy, também desafiou a proposta de Moulton, dizendo que "se você fizer isso [explodir o TSMC], terá um impacto econômico de US$ 2 trilhões [cerca de R$ 9,8 trilhões] na economia global no primeiro ano e paralisaria a manufatura em todo o mundo. Esta é uma ideia terrível", assegurou Flournoy.
No manual de política externa dos falcões dos EUA, o mundo parece funcionar com "ideias terríveis". A proposta de Moulton de destruir a infraestrutura de fabricação de chips de Taiwan e a propensão de Zelensky para o terrorismo e a retórica escalonada não são novidade – com a recente guerra da CIA na Síria e o apoio dos EUA ao terrorismo contra governos e movimentos aliados de Moscou durante a Guerra Fria demonstrando que para Washington, tais táticas são a regra, não a exceção.
As tensões entre os EUA e a China sobre Taiwan aumentaram drasticamente nos últimos dois anos em meio às repetidas promessas do presidente Biden de defender Taiwan no caso de uma "invasão" chinesa. Os legisladores dos EUA realizaram inúmeras visitas de boa vontade à ilha, ignorando os avisos de Pequim de que as relações diplomáticas entre Washington e Taipé são ilegais sob os tratados que sustentam as relações EUA-China, incluindo a Política de Uma Só China. A República Popular considera Taiwan parte integrante da China destinada a uma eventual reunificação pacífica. Mas Pequim também alertou as autoridades de Taiwan e parceiros estrangeiros de que qualquer tentativa de políticos anti-China de proclamar formalmente a "independência" em Taipé pode ser recebida com uma resposta militar.