Em entrevista ao canal Tsargrad, o chanceler russo disse que vários países africanos e latino-americanos reclamaram que estão cansados das exigências do Ocidente para aderir às sanções contra a Rússia em troca de promessas de que "não serão punidos".
"[Os países ocidentais] ameaçam e punem diretamente. Perguntei a alguns de meus amigos de África e América Latina, que reclamam que o Ocidente simplesmente os cansou [...] exigindo que eles se juntassem às sanções [antirrussas]", disse ele.
Segundo Jalife-Rahme, o fato de o Ocidente pressionar e realizar ações desse tipo contra alguns países para fazê-los optar por punir a Rússia mostra que Washington está desesperado para manter sua desgastada hegemonia.
"Eles [os países ocidentais] procuram mostrar que ainda não estão mortos, que estão resistindo e no final das contas se sentam para negociar com a Rússia e a China a nova ordem mundial", diz o especialista.
O internacionalista destaca que os Estados Unidos estão atualmente "muito fracos", pois além dos fatores econômicos que os desafiam e da tendência de desdolarização das finanças internacionais, o país sofre uma grande crise interna que o derrubou como a principal potência mundial.
"Os Estados Unidos não são mais a primeira superpotência, eu colocaria em terceiro lugar", diz o especialista, que detalha que no campo militar, a Rússia é o país líder, enquanto a China lidera a corrida tecnológica, especificamente em inteligência artificial. "Fazendo a adição e subtração de tudo [...] os Estados Unidos vêm caindo interna e externamente", acrescenta Jalife-Rahme.
Lavrov observou que "a alegação de que o Ocidente 'isolou' a Rússia indica apenas uma coisa: ele se considera o centro do universo", e somente isso pode explicar sua política atual.
"As tentativas ocidentais de forçar os países do Sul Global [...] a juntar-se ao confronto das sanções antirrussas com o desejo da grande maioria dos países em desenvolvimento de construir suas políticas com base nos interesses nacionais, nas necessidades de sua economia, nas tarefas de resolver problemas sociais", adicionou. Neste contexto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia também apontou que a política ocidental está falhando.
A este respeito, Jalife-Rahme aponta que o chanceler russo está correto e afirma que o Ocidente optou pela visão dos "neoconservadores" que estão à frente do Departamento de Estado.
"Eles queriam aplicar as mesmas medidas com o Irã, Iraque, com a Líbia, com a Síria, mas com a Rússia, [...] eles acreditavam que iam aniquilar a Rússia com suas sanções, mudar o regime e até balcanizar a Rússia, e como resultado teve um efeito bumerangue, acho que julgaram mal a resposta, sobretudo a enérgica, do [presidente Vladimir] Putin", disse ele.
O especialista mexicano e autor do livro "Ucrânia, a primeira guerra híbrida mundial. Fratura da biosfera", afirma que China e Rússia "viajam no mesmo carro geoestratégico" e, no caso da América do Sul, a presença do gigante asiático domina a região.
O analista e acadêmico sublinha que, no mapa geopolítico, Rússia e China caminham de mãos dadas para um mundo multipolar, enquanto os Estados Unidos continuam em declínio.
No caso da África, ele afirma que a dissociação com os Estados Unidos é ainda maior, já que a Rússia está apoiando o continente em matéria militar, enquanto a China "há anos que adentrou o mercado africano".
Lavrov observou que "[os países do Ocidente] apelam para os resultados da votação da ONU em resoluções provocativas, que eles redigem de maneira jesuítica, inserindo nelas o máximo de linguagem geralmente aceita, mas em algum lugar nas entrelinhas eles incorporam abertamente passagens antirrussas".
Os países do Sul Global, nas palavras do diplomata, votaram apenas no Ocidente para "deixá-los em paz", mas não aderiram às sanções.
"Se você estiver certo, não vai impor sua razão aos outros por meio de chantagens, ameaças e sanções diretas. Isso nem foi pensado por aqueles que têm certeza de que estavam certos. [Mas] o Ocidente não tem certeza disso", disse ele, acrescentando que se os Estados ocidentais se consideram "grandes democratas", deveriam deixar outras nações "decidirem por si mesmas".