A possibilidade de um encontro cara a cara entre o presidente sírio, Bashar al-Assad, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, vai depender da retirada de todas as forças turcas do território sírio, disse o ministro das Relações Exteriores da Síria, Faisal Mekdad.
"A reunião do presidente Assad com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, depende da retirada das forças turcas do território sírio", disse Mekdad em entrevista à mídia russa no domingo (21).
Segundo o alto diplomata, não se pode falar em normalização das relações enquanto Ancara continuar ocupando terras sírias.
"A normalização só pode ser alcançada após a retirada das forças turcas da Síria, e apreciamos muito o esforço feito por [nossos] amigos russos", disse Mekdad.
Os comentários de Mekdad ecoam comentários feitos pelo presidente Assad em março, quando ele disse a um correspondente da Sputnik que uma reunião com Erdogan estaria "vinculada a chegar a um estágio" em que Turquia se comprometesse a deixar a Síria, "acabar com seu apoio ao terrorismo e restaurar a situação que prevaleceu antes do início da guerra na Síria."
"Esta é a única situação em que seria possível ter um encontro entre mim e Erdogan. Além disso, qual é o valor de tal encontro e por que o realizaríamos se não traria resultados finais para a guerra na Síria?", questionou Assad na época.
A Rússia e o Irã, que mantêm relações amistosas com a Síria e a Turquia, trabalharam extensivamente nos últimos meses para acabar com a crise de uma década nas relações entre Damasco e Ancara.
No início deste mês, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, reuniu-se com seus homólogos sírio, iraniano e turco em Moscou para discutir a reaproximação Síria-Turquia, delineando um roteiro diplomático para a normalização e pedindo a Damasco e Ancara que discutam a reparação dos corredores de transporte e logística e retome cooperação comercial e econômica "sem barreiras".
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, concentrou seus comentários na reunião sobre a necessidade de expandir a cooperação na luta contra o terrorismo e "avançar o processo político" na Síria. Cavusoglu também reiterou o compromisso da Turquia com a proteção da integridade territorial da Síria.
As negociações deste mês foram precedidas por uma reunião semelhante organizada pelo ministro da Defesa, Sergei Shoigu, em abril, e negociações em Moscou no nível do vice-ministro das Relações Exteriores no mesmo mês.
Síria e Turquia romperam relações em março de 2012, depois que Ancara e outras nações regionais, incluindo Arábia Saudita, Catar e Israel, se juntaram a uma pressão liderada pelos Estados Unidos para derrubar o governo sírio e ajudaram a facilitar o fluxo de rebeldes islâmicos e armas para o país.
Após a intervenção da Rússia na crise em setembro de 2015, Ancara mudou seus objetivos, passando a estabelecer uma zona tampão de fronteira entre a Turquia e a Síria, enviando tropas ao país vizinho para "combater o terrorismo" e combatentes curdos com suspeita de vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – um grupo militante baseado na Turquia que Ancara classifica como terroristas.
A Turquia e seus aliados militantes na província de Idlib, controlada pelos rebeldes, controlam atualmente cerca de um décimo da Síria. As autoridades sírias pediram repetidamente a Ancara, assim como a Washington e Tel Aviv, que encerrassem imediatamente a ocupação da nação devastada pela guerra no Oriente Médio e devolvessem esses territórios ao controle do governo reconhecido internacionalmente em Damasco.
O aparente bloqueio contínuo nos laços sírio-turcos ocorre no contexto da normalização sem precedentes das relações entre Damasco e seus vizinhos árabes e do retorno triunfante do presidente Assad à Liga Árabe na semana passada (18).