Nesta semana, a Finlândia coordena um exercício militar conjunto com EUA, Noruega, Suécia e Reino Unido na região do Ártico. Esse é o primeiro exercício sediado por Helsinque na capacidade de membro permanente da aliança militar do Atlântico Norte (OTAN).
Os exercícios são realizados em regiões florestais ao norte do território finlandês, considerado uma das principais bases terrestres para eventuais ações militares no Ártico, reportou o portal Euractiv.
A entrada oficial da Finlândia na OTAN, oficializada em 4 de abril deste ano, modificou a configuração militar na região do Ártico, essencial para a manutenção da segurança russa.
"Entre os países que pertencem ao espaço Ártico, EUA (Alasca), Canadá, Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia, todos – menos a Rússia – são aliados à OTAN, uma vez que a Suécia está em processo de adesão", disse a pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos e Segurança Internacional da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Alana Monteiro à Sputnik Brasil.
Segundo ela, os debates entre países do Ártico, que tradicionalmente tratavam de temas como delimitação de fronteiras e gestão de plataformas continentais, devem se tornar cada vez mais focados na área militar.
Soldados e funcionários do Serviço Nacional de Parques descarregam equipamentos e suprimentos de um helicóptero CH-47 Chinook do Exército dos EUA na geleira Kahiltna em 27 de abril de 2022
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"Com a adesão dos dois países à OTAN [Finlândia e Suécia], há crescente tendência de que os diálogos sejam voltados à segurança e militarização do espaço", disse Monteiro. "Certamente não podemos prever um diálogo que visa o pacifismo."
A adesão da Finlândia à OTAN gerou repercussão na Rússia, que lamentou o fim da neutralidade do país vizinho do Norte.
"A política de não alinhamento militar de Helsinque serviu por muito tempo aos interesses nacionais finlandeses e foi um importante fator de construção de confiança na região do mar Báltico e no continente europeu como um todo", afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado.
Para a chancelaria russa, a Finlândia terá pouco poder para definir os rumos da aliança e suas investidas militares na região do Ártico.
Imagem de um iceberg na região do Ártico
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"A Finlândia tornou-se um dos pequenos membros da aliança que não decide nada, perdendo sua voz especial nos assuntos internacionais. Temos certeza que a história julgará este passo apressado", lamentou o ministério russo na ocasião da entrada formal da Finlândia na aliança ocidental.
Monteiro também avalia que a escolha finlandesa de abandonar a sua neutralidade e aderir à organização leva à limitação de sua soberania nacional.
Por outro lado, a especialista lembra que a Finlândia, por ter se aliado à OTAN desde 1994, já observava diversas regras da organização mesmo antes de sua adesão formal, como, por exemplo, a obrigação de comprometer 2% do PIB com gastos militares.
"O que muda a partir da adesão é estarem protegidos pelo Artigo 5º do tratado da OTAN, que trata da defesa coletiva. Ou seja, prevê que, em caso de ataque contra um dos aliados, este será considerado ataque a toda a Aliança [...] Dessa forma, é indiscutível que a Finlândia se tornou uma peça fundamental no xadrez da geopolítica europeia", concluiu a pesquisadora.
Entre os dias 29 de maio e 9 de junho, a Finlândia sedia, em parceria com Suécia, Dinamarca e Noruega, as manobras militares Arctic Exercise Challenge (ACE 2023), sob os auspícios da OTAN. De acordo com o Ministério da Defesa da Suécia, os exercícios envolverão a participação de 120 bombardeiros e aeronaves de alerta antecipado, assim como 2.700 militares de 14 nações, conforme reportou a Prensa Latina.