Embora os representantes do Ministério da Defesa, do Ministério do Comércio, Indústria e Economia do Japão e do Departamento de Estado dos EUA não tenham confirmado diretamente essa informação, ela provavelmente reflete uma troca ativa de opiniões sobre o assunto.
Os Estados Unidos, com suas poderosas Forças Armadas, enfrentam escassez de munição e de explosivos necessários para a sua produção.
TNT precisa ser purificado
Por que é que o tema da aquisição de TNT no Japão surgiu? Em 2022, foram produzidos 16,5 milhões de toneladas de explosivos em todo o mundo.
Os explosivos são amplamente utilizados não apenas pelos militares, mas também na indústria (mineração de minério de ferro, carvão etc.) e na construção (demolição de edifícios).
Aparentemente, não deve haver problema em adquirir TNT.
Na verdade, os setores civil e militar usam tipos diferentes deste explosivo. Quando o TNT é fabricado, ele contém resíduos de ácidos sulfúrico e nítrico.
Para os projéteis, o TNT precisa ser purificado. Em primeiro lugar, com o tempo, o TNT bruto se transforma parcialmente em líquido, o chamado "óleo de TNT". Isso é perigoso em munições, porque pode fazer com que o projétil exploda no cano da arma.
Em segundo lugar, o TNT purificado tem um poder explosivo muito maior do que o TNT bruto.
Nos Estados Unidos, o TNT também é produzido, mas é provável que as empresas tenham fechado as fábricas de purificação de TNT para economizar dinheiro e otimizar os custos.
Os consumidores civis compram TNT não purificado, e a produção de projéteis nos EUA foi mantida em um nível mínimo.
Antes do início das hostilidades na Ucrânia, os Estados Unidos estavam produzindo 14.400 projéteis por mês.
O projétil M795 de 155 mm para o obuseiro M777 é preenchido com 10,8 kg de TNT. Isso representa um consumo de 155,5 toneladas de TNT por mês ou 1.866 toneladas por ano.
Essas são quantidades muito pequenas. Os fabricantes de explosivos, que não tinham contratos governamentais de defesa, não purificavam o TNT.
Soldados ucranianos abrem fogo com um obuseiro M777 fornecido pelos EUA contra posições russas na República Popular de Donetsk (RPD), em 18 de junho de 2022
© AP Photo / Efrem Lukatsky
Munições norte-americanas estão quase esgotadas
Durante três décadas, os EUA travaram guerras em que as bombas e os mísseis dominavam. Os obuseiros desempenhavam um papel secundário e eram usados com mais intensidade apenas no Afeganistão.
Mas em 2022, os EUA começaram a ajudar a Ucrânia. As tropas ucranianas têm sido muito ativas no uso de obuseiros e os Estados Unidos forneceram-lhe obuseiros M777 de 155 mm e suas munições.
Foi aí que se descobriu que o estoque e a produção de projéteis são muito baixos. Em abril de 2023, os EUA haviam enviado à Ucrânia 160 obuseiros M777, 1,5 milhão de projéteis convencionais e 6.500 mísseis guiados.
O Exército ucraniano usava entre 7.000 e 9.000 projéteis por dia, por isso o presidente ucraniano Vladimir Zelensky pediu repetidamente mais munição.
EUA já gastaram US$ 1,45 bilhão (R$ 7,14 bilhões) para aumentar a produção de projéteis de 14.400 para 24.000 por mês. Mas isso não foi suficiente. A produção de um mês nos EUA é gasta pelo Exército ucraniano em três dias.
Há planos para aumentar a produção para 85.000 projéteis por mês até 2028, mas isso já está limitado pela produção de TNT. Em 2023, o Exército dos EUA planeja gastar US$ 2,5 bilhões (R$ 12,31 bilhões) para aumentar a produção de TNT e outros explosivos.
Além disso, os Estados Unidos abastecem a Ucrânia com estoques e reservas dos aliados.
Por exemplo, em Israel, os depósitos de artilharia norte-americanos foram instalados em caso de guerra e o país tinha direito de usá-los. Em janeiro de 2023, os EUA levaram 300.000 projéteis desses depósitos para a Ucrânia.
Em abril de 2023, a Coreia do Sul concordou em transferir 500 mil projéteis de 155 mm para os EUA com uma compensação subsequente.
Muitos dos obuseiros M777 existentes na Ucrânia, que eram um alvo prioritário, já foram destruídos por ataques de drones russos. Além disso, grande parte da munição norte-americana foi destruída nos depósitos.
Em suma, os estoques de munição estratégica dos EUA e dos aliados estão praticamente esgotados.
Participação na guerra
A esse respeito, é preciso lembrar que o fornecimento de materiais e explosivos para a produção de armamentos e munições é uma forma de participação na guerra.
Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos forneceram grandes quantidades de equipamentos militares, armas, munições e equipamentos industriais para a União Soviética no âmbito do programa Lend-Lease.
Forneceram um total de 345,7 mil toneladas de explosivos, inclusive 123,1 mil toneladas de TNT, 127 mil toneladas de pólvora, 903 mil detonadores, além de 842 mil toneladas de produtos químicos.
Portanto, se o Japão decidir vender TNT purificado adequado para a produção de munição para os Estados Unidos, isso significará uma participação real nas hostilidades na Ucrânia. O status do Japão como um Estado não militarizado será, no mínimo, questionado.